O site The TrekMovie publicou a primeira parte de uma longa entrevista com um dos roteiristas de Jornada nas Estrelas, Roberto Orci, que falou a respeito de sua infância como fã da série original e o que pretende mostrar nesse novo filme de J. J. Abrams. Veja abaixo os trechos mais importantes dessa entrevista.
Você se considera um trekker? “Sim. E creio que provavelmente possa colocar também o produtor Damon Lindelof nessa categoria”, disse o escritor que relembrou o tempo em que conheceu a franquia. “Quando eu era criança, ficava com meu tio, que me contava sobre o episódio da série original. Ele me levou para dentro de Jornada e realmente continuei a acompanhá-la assistindo à Nova Geração. Eu vi os filmes, mas a minha experiência televisiva com a franquia foi na Série Clássica e em A Nova Geração. Hoje em dia, eu ainda acredito que a série A Nova Geração é a melhor série de televisão de toda a minha vida”.
Orci continuou a comentar sobre A Nova Geração. “Primeiro de tudo, eu sou um fã de ficção científica e nunca houve algo que fizesse a ficção tão respeitável quanto A Nova Geração. A humanidade nunca foi perdida no meio da tecnobabble dessa série. A ficção e os personagens sempre estiveram interligados brilhantemente e isso é um exemplo de como aproximar todos os gêneros. Todos esses gêneros precisam ter um grande personagem, seja numa ficção, fantasia ou o que for”, comentou o roteirista dizendo ainda que, embora nunca tenha participado de fã-clubes de Jornada, ele possui até hoje brinquedos da franquia, como um telefone em forma da nave Enterprise, um phaser, além de DVDs de todos os filmes com os seus respectivos scripts e camisas com símbolos e logotipos.
Roberto Orci aproveitou para dar sua opinião sobre as demais séries, começando pela Série Clássica. “Ela fez da ficção científica parte da cultura popular”, disse o escritor. “Ela foi parte dos movimentos dos direitos civis (nos EUA) e parte da normalização das relações entre os EUA e a URSS. Foi parte do ideal de uma Federação super poderosa que fazia o melhor para a vida de todos. Nos anos 60, essa idéia foi espantosa. Não poderia ser um pensamento mais ousado”.
Sobre Deep Space Nine, fez o seguinte comentário. “Em Deep Space Nine, eu adorei que tenham explorado levemente o lado mais sombrio da franquia. Ela mostrou as brechas na utopia, o que achei muito interessante. Ela foi além do que Jornada originalmente significou”.
Com relação à Voyager. “Eu adorei a série, porque foi uma experiência singular de ser separada da utopia. Creio que tenha sido um tipo de contraponto ao que já tinha sido apresentado e obviamente eu gostei da idéia da primeira capitã. A série mostrou que tudo de Jornada teve essa semente de progresso. O que eles (produtores) estavam tentando empreender era mais complicado e, como tal, foi mais tenso, com armadilhas potenciais que dificultaram a navegação de qualquer elenco por trás das cenas. Mas inerente a isso, ainda é a adorável Jornada. O pior momento de Jornada, para mim, é melhor do que o pior momento de qualquer outra série”.
Sobre a série Enterprise, Orci falou a respeito das origens da franquia. “Eu adorei a idéia do perigo das primeiras explorações no espaço. De uma certa forma, somos parceiros de Enterprise em espírito, porque ela foi um prequel e porque estava tentando explicar as origens da franquia. Você não pode negar que eles (produtores) foram os primeiros a tentar isso. Realização a parte, nós entendemos o apelo e o valor de tentar mostrar como chegamos ao que Jornada foi. A série mostrou o visual e o sentimento do que foi feito antes da original e fazendo isso de forma muito mais naval, como um submarino. Enterprise claramente estava tentando explorar isso. Fazendo isso, eles estavam tentando contar uma história relacionada ao nosso mundo contemporâneo, nossas defesas, submarinos e capitães. Foi uma idéia legal”.
Ao ser perguntado sobre quais os seus episódios favoritos de cada série, Orci revelou somente os da Série Clássica e de A Nova Geração. “Na série original, eu adoro um com os Romulanos atacando a Enterprise (“Balance of Terror”). Em A Nova Geração, eu gosto de “Yesterday’s Enterprise” e também de “Best of Both Worlds”, no qual Picard torna-se Locutus, mas há tantos outros que é difícil apontar um”.
Além das séries e filmes, o roteirista também aprecia a literatura de Jornada, dizendo que já leu toneladas de livros e alguns deles por mais de uma vez. Ao ser perguntado sobre os seus preferidos, Orci citou dois relacionados à série original. “Meus favoritos são “Prime Directive” (Primeira Diretriz) e “Spock´s World” (O Mundo de Spock), nessa ordem”, revelou o roteirista. “Eu considero os escritores Judith e Garfield Reeves Stevens fabulosos. Eu li “Prime Directive” três ou quatro vezes e creio que é uma das melhores histórias de Jornada já criada de todos os tempos”, comentou o roteirista revelando de onde são tiradas as cenas para os testes do elenco. “Aqui há uma observação interessante. Para a escolha do elenco do filme nós entregamos aos atores e atrizes cenas de scripts. Mas, a partir do momento em que estamos mantendo a história em sigilo, não queremos dar a eles as cenas do filme, de modo que as cenas para os testes têm sido tiradas dos livros”.
Comentando mais um pouco sobre os livros, Orci revelou que estão utilizando elementos de alguns deles para o filme, mas procurando respeitar, pela visão dele e do produtor Damon Lidelof, sua relação com Jornada. Acrescentou ainda o roteirista que o material usado está sendo constantemente revisado pela equipe. “Especialmente agora, que estamos montando nossa equipe de produção e executando o trabalho, é que surgem as perguntas”, disse Orci. “E, desse modo, nós consultamos episódios prévios como um tipo de linha de base e então vemos se algo necessita ser argumentado ou se está ok. Cada um de nossos escritórios possui toneladas de material de Jornada e está sendo constantemente revisado por nós, pelos consultores, pela produção de designer e outros”.
O que faz de Jornada tão atrativa, mesmo já tendo se passado 40 anos da série original? “Bem, eu creio que em primeiro lugar sejam as caracterizações da série original, que tornaram o que podemos chamar internamente de “personagens shakesperianos”. Spock, Kirk e MacCoy são shakesperianos. Eles foram arquétipos (exemplares) em suas relações. Eles conseguiram transformar-se em personagens que são mais do que a soma dos atores, mais do que a soma dos escritores, eles são ícones da cultura popular. Uma das coisas comuns que lemos sobre Jornada é que a franquia não foi apenas uma série de TV, mas um comentário de nossa sociedade à época. Porque ela foi camuflada pela ficção científica, na qual você pôde escapar com coisas do tipo o primeiro beijo interracial, um russo que você gosta (Chekov) e todos os tipos de quebra de fronteiras sociais. Além do que ela se tornou uma série inteligente e divertida, que foi palatável pela grande massa de audiência. O fato de que ela ainda mantém posição na cultura popular significa que foi além de seu tempo”.
Você acredita que Jornada possa ser grande outra vez como foi “Guerra nas Estrelas”? “Eu acredito. Não se esqueça que Jornada precedeu a “Guerra nas Estrelas”. O fato da ficção científica ter se tornado palatável para a grande massa de audiência deve ser creditada a Jornada. Ela estendeu da fundação até mais alguns degraus para “Guerra nas Estrelas”. Creio que ela possa ser grande de novo. Jornada é como “Guerra nas Estrelas” com seu arquétipo e personagens do tipo Joseph Campbell (estudioso de mitologia). A produção de George Lucas começou como ficção científica e foi reduzida a um relacionamento humano e Jornada foi a primeira a fazer isso. Obviamente, com toda essa importância, é muita pressão para pôr sobre nós, mas não estaríamos indo em frente se não acreditássemos que ela poderia ser tão relevante quanto legal”.
Jornada XI poderia ter o mesmo apelo popular que teve o filme “Transformers”? “Esse filme é um grande exemplo, porque foi uma franquia que tinha uma forte base de fãs, mas era um nicho de mercado, digamos assim. Por causa disso, nossa conduta foi revigorá-la. Não achamos que exista alguma coisa inerentemente falha com a alma que Jornada estabeleceu. Sentimos que podemos trazer de volta essa alma. Não apenas queremos satisfazer os fãs e, nesse ponto, estamos confiantes de que teremos um filme no qual os fãs verão, de um certo modo, que o conhecimento deles do cânon não foi jogado fora e será parte do divertimento deles no filme, mas simultaneamente a história foi desenvolvida para também ser uma introdução as pessoas que não são fãs ou que nada sabem sobre Jornada ou que acham que a franquia esteja morta. Acreditamos que o filme possa ser isso porque achamos que os móveis da casa precisam de alguma re-decoração”.
Qual alma é essa de Jornada que vocês estão tentando resgatar? “Eu falo por todos nós, que se refere, primeiramente, ao relacionamento e isso não quer dizer que todos consigam isso. Eu concordo com o Abrams quando diz que é sobre situações inacreditavelmente impossíveis que forçam um grupo de pessoas a olharem além de suas diferenças a encararem o impossível. De certo modo, a vida de cada um tem um tipo de elemento para isso. Nós enfrentamos nossas dificuldades algumas vezes com um pouco da ajuda de nossos amigos. Isso é também o que o Leonard Nimoy diz: ‘É sobre diferentes pessoas indo na mesma direção em face dos eventos que eles não podem controlar’. Isso foi extremamente relevante na Guerra Fria e nos anos sessenta e é relevante agora”.
Em breve publicaremos a segunda parte dessa entrevista. Fique ligado no TB.
Fonte: TrekMovie
Edição: Nívea Doria