O produtor executivo da série Enterprise, Brannon Braga, esteve presente na Star Trek Convention de Las Vegas e fez algumas considerações sobre a última série da franquia.
Braga que também foi produtor de A Nova Geração e Voyager deixou claro ao público presente que, para ele, Jornada foi uma agrável experiência. Após o cancelamento de Enterprise, essa foi a primeira vez que o produtor voltou a uma convenção de Jornada e considerou seu retorno como uma “nostálgica experiência”.
Sobre Enterprise, Braga fez uma avaliação positiva, mas ressaltou que talvez mudasse algumas coisas. “Eu honestamente digo que criativamente, provavelmente,não mudaria nada. Mas existem certos episódios que foram realmente ruins e eu desejaria não tê-los feito. Houve episódios também que se mostraram muito bons”, comentou o produtor.
Ao falar sobre o episódio final da série (“These are the Voyages…“), Braga mostrou não ter ficado satisfeito com sua criação. “Tenho algum arrependimento com relação ao episódio final”, criticou agora o produtor. “Ele não ficou criativamente alinhado com o resto da (quarta) temporada. O final foi muito controverso. O que estávamos tentando fazer foi passar uma mensagem sentimental a todas as séries de Jornada. Enterprise apenas aconteceu ser a série naquele momento e acabou sendo um fracasso o epísódio. A série teve uma boa premissa inicial e uma concepção legal, mas não tinha energia. Eu não sei se ela se rendeu totalmente às críticas e chateou o elenco. Ela foi uma série híbrida. Rick (Berman) e eu estávamos envolvidos na franquia por anos. Sentíamos que queríamos enviar algum sentimento à série, mas eu concordo que não foi um sucesso”.
Ainda em relação ao episódio final, Braga disse que a morte de Trip seria para causar impacto. “Era o final da série. Sabíamos que ela estava no fim e que podíamos fazer o que quiséssemos. Trip sempre foi meu personagem favorito e eu apenas queria matá-lo. Não posso dar a vocês uma resposta coerente. Nós queríamos fazer algo que tivesse um impacto emocional e que tivesse conseqüências, algo que nunca nos foi permitido fazer”.
Já em relação à Manny Coto, que comandou a série na sua quarta e última temporada, Braga disse ter gostado muito de seu trabalho, chegando a pensar que a série poderia ter seguido outro caminho. “Eu achei que Coto fez um grande trabalho. Alguém poderia argumentar que Enterprise poderia ter começado dessa temporada. Quando eu vi o que o Manny estava fazendo, pensei que talvez a série pudesse realmente ter começado daí”, comentou o arrependido produtor.
Muitas críticas por parte dos fãs em relação à série referem-se ao fato de que Enterprise não teria respeitado eventos mostrados anteriormente, ou seja, violado o cânon de Jornada. Quanto a isso respondeu Braga. “Ao contrário da opinião de muita gente, nós prestamos muita atenção a continuidade da franquia”, defendeu-se o produtor. “Sempre houve uma percepção de que nós cuspimos no cânon de Jornada, e nada disso poderia ser mais do que inverídico. Uma das maiores reclamações (dos fãs) é a de que violamos a cultura vulcana, que fizemos coisas com os vulcanos como elos mentais que não eram legítimos como os da série original. Mas lembre-se que as culturas mudam. Essa série tomou lugar num tempo bem antes da original e a cultura vulcana era diferente, então. Nós começamos a mostrar que essa cultura não era igual a do tempo de Kirk, do mesmo modo que a cultura americana de hoje não é a mesma de 200 anos atrás. As coisas mudam, tecnologias mudam, elos mentais também mudam”.
O produtor defendeu também a decisão de criar uma série prequel (anterior) da Série Clássica com visual mais futurista que da original. “Isto é um paradoxo. Como fazer uma série com o visual padrão de hoje e ainda assim manter o design natural da original nos anos 60? Isso é certamente algo que J. J. Abrams está lidando em seu filme. Você tem de tomar uma decisão corajosa e dizer que é provavelmente mais importante fazer a série com um visual legal do que ser completamente fiel ao original. Nós certamente tentamos fazer esse visual mais futurista do que o de hoje, mas menos do que o tempo de Kirk. Veja o material que os personagens estavam usando na série. Eles tinham comunicadores maiores do que qualquer telefone celular. Os laptops usados em Voyager eram gigantescos, eram ridículos”.
As constantes mudanças de horário das duas últimas séries de Jornada, promovidas pela emissora UPN, na opinião de Braga, não ajudaram na tentativa de melhorar a audiência. “Eu creio que isso prejudicou a série Voyager e muito mais Enterprise. Assim como essa constante troca de canal numa jovem emissora que em algumas partes estava no canal 92, se você a encontrasse, e necessitava ter uma antena em V. Então, estávamos filmando essa série e lançando em alta definição. As pessoas estavam assistindo-a nas piores estações que se possa imaginar. Toneladas de problemas estavam surgindo nessa emissora. Também não tínhamos muito dinheiro para a promoção. De modo que acho que não foi uma grande coisa para a franquia. Eu também não posso pôr responsabilidade só nisso. Havia outros problemas, é claro, e foi verdadeiramente frustrante”, finalizou.
Fonte: The TrekMovie e TrekWeb
Edição: Nívea Doria