A última edição da revista “Star Trek Magazine” publicou uma entrevista com o ex-produtor de Jornada, Rick Berman, onde comentou as razões do fracasso de sua última série, Enterprise.
Berman disse que conseguiu levar Voyager até o sétimo ano a contragosto do estúdio, que queria uma nova série em seu lugar. “Eu estava fortemente propenso a dar à série Voyager pelo menos mais um ano (o sétimo) e o estúdio relutantemente concordou, mas eles disseram que tão logo Voyager terminasse, eles queriam alguma outra série de Jornada em seu lugar. O estúdio não queria um hiato onde não houvesse nada no ar, o que achei que seria mais saudável fazê-lo. E eles o fizeram”, disse o produtor.
A respeito de Enterprise, Berman achou que seria demais produzir mais uma série no século 24, tendo passado as três anteriores no mesmo período. “Nosso sentimento quando começamos em Jornada era, sendo certo ou errado, fazer três séries no século 24 – duas séries em espaçonaves e uma numa estação. E então a idéia de fazer uma outra série com uma outra nave, de outro nome, com outra tripulação situada no mesmo tempo de Voyager e dos filmes de A Nova Geração seria demais”, disse o produtor, acrescentando que uma história situada antes da Série Clássica acabou por prevalecer.
“Nós gostamos da idéia de voltar no tempo. Era um tempo que nos levaria da primitiva era pós-apocalíptica, que vimos em ‘Primeiro Contato’, ao mundo que teve Kirk e Spock, a Federação, Frota Estelar e naves que fossem capazes de ir em incríveis velocidades de dobra. De modo que escolhemos mostrar os primeiros passos da humanidade na galáxia, quando a primeira nave com capacidade de dobra cinco fizesse isso dentro de um quadrante populoso”, explicou.
Berman negou os rumores de que ele e o co-produtor, Brannon Braga, não gostavam da Série Clássica, mas confessou não ter visto todos os episódios da série. “Muito do retorno dos fãs não foi positivo para nós. Havia um sentimento de que Enterprise seria uma série precursora da série original, e embora tenha lido muita descrição sobre Brannon (Braga) e eu como “odiando” a Série Clássica, isso não poderia ser mais falso. Nós não éramos obsessivos pela série original. Eu posso abertamente admitir que eu não vi os setenta e nove episódios da série, ou os oitenta, se vocês incluírem as várias versões do piloto. Mas era alguma coisa que eu respeitava e fizemos o melhor que podíamos para respeitá-la. No entanto, eu acho que havia algo que estava perturbando os fãs”, comentou.
Ao tentar criar, com os personagens, uma atmosfera mais próxima dos tempos atuais do que da Série Clássica, Berman disse que a série pode ter se afastado do caminho da ficção científica. “Eles (os personagens) não eram de um futuro tão distante assim. Nós percebemos que poderíamos ter mais da série ligada ao contemporâneo da televisão e menos de uma que tomasse lugar num futuro distante. Alguma coisa um pouco diferente dos humanos do século 23 de Gene Roddenberry ou os do século 24, que eram graciosamente sem defeitos. Deste ponto de vista, estas foram às escolhas, que na época, pareceram muito razoáveis e eu, provavelmente, faria de novo. Mas isso teve armadilhas e talvez ela tenha se tornado muito casual e muito contemporânea, e perdido alguns destes sabores da ficção científica, alguns destes aromas do futurístico, os quais fariam dela a antecessora da Série Clássica. Isso certamente teve seus problemas”, revelou.
Para Berman a introdução do roteirista e co-produtor Manny Coto ajudou a série, embora não tenha sido o suficiente para evitar o seu cancelamento. “Manny ficou muito empolgado sobre o potencial de ligação entre Enterprise e a primeira temporada da Série Clássica. Ele teve de construir estas pontes ou ao menos criar os passos que sinalizariam algumas das coisas que aconteceram na série original. Eu creio que o grupo tradicional de fãs ficou maravilhado por seguir nesta direção. Por outro lado, os níveis de audiência continuaram baixos. Os problemas que existiam continuaram e o lançamento de nosso filme ‘Nêmesis’ não ajudou”, lamentou Berman.
Por fim, Berman fez críticas ao comportamento da emissora UPN por não ter dado muito apoio à série. “Olhando para trás, a falta de suporte e de interesse do pessoal que pareceu ter a UPN, não nos ajudou também. Nós estávamos trabalhando em uma emissora que, de algum modo, era completamente contraditória a natureza da série. A UPN tornou-se uma emissora de jovens mulheres e garotas e isso não foi um bom casamento”, finalizou.
Fonte: TrekWeb