Em entrevista exclusiva ao site TwitchGuru, o produtor e diretor Nicholas Meyer comentou sobre sua experiência em trabalhar no segundo e mais elogiado filme da franquia, Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan. Veja aqui alguns pontos mais importantes dessa entrevista.
Como foi que aceitou ser diretor de “Jornada II: A Ira de Khan”?
Meyer: “Eu havia terminado de dirigir “Time After Time” (“Um Século em 43 Minutos”) e pretendia produzir um outro filme, baseado numa novela de Robertson Davies. Nesse meio tempo, uma amiga minha, que era executiva da Paramount na época, me falou sobre um segundo filme de Jornada nas Estrelas do produtor Harve Bennett, e que ela estaria interessada em que eu dirigisse. Embora tivesse respondido que nunca havia assistido a nenhum episódio de Jornada e mal conhecia o rapaz de orelhas pontudas, aceitei dar uma olhada. Eu me encontrei com Bennet. Me foi mostrado o primeiro filme e alguns episódios. Então, comecei a amadurecer a idéia.”
Falando na idéia, como foi que começou a produção de “Jornada II”?
Meyer: “Harve me disse que cinco rascunhos do script estariam prontos no final de semana e que me enviaria para avaliação. Mas, três semanas havia se passado sem que tivesse notícia deles. Quando questionei ao Harve, ele me disse que não estavam bons e por isso não os havia enviado. Eu pedi para lê-los mesmo assim, porque estava com essa idéia de fazer minha própria história espacial. Para mim, Jornada era uma versão espacial das histórias do capitão Horatio Hornblower (escritos por C.S. Forster), as quais eu adorava quando criança e que seria essa mesma versão que iria fazer. Ao fim da leitura dos cinco scripts, eu disse ao Harve para listarmos o que gostamos desses scripts. Poderia ser um diálogo, um personagem, uma cena, qualquer coisa. E então escreveríamos uma nova história que incorporaria todo esse material. Eu disse ainda ao Harve que não iria levar o crédito da história, apenas a dirigiria. Ele pareceu não acreditar muito em minha oferta, mas resolveu trabalhar comigo em cima do material. Então decidimos pelo Projeto Gênesis, Khan, o filho de Kirk, a personagem Saavik, a seqüência do simulador da Frota e outros. Eu queria também pôr Spock nessa história, de modo que poderíamos matá-lo, então a idéia foi avante. Isso foi basicamente como eu escrevi a história baseada em alguns elementos dos scripts.”
Qual a característica básica que você procurou dar aos filmes que dirigiu?
Meyer: “Eu sempre estou procurando por maneiras de deixar as coisas por conta da imaginação das pessoas. Por exemplo, em Jornada II: A Ira de Khan, o personagem Khan, interpretado por Montalban, somente veste uma luva, e as pessoas ficam curiosas em saber o que existe debaixo dela. Nós nunca tiramos a luva do personagem. Por que ele veste uma única luva? Essa é uma boa pergunta. Outra dúvida dos fãs é sobre o tórax avolumado do Montalban ser falso. E a resposta é sim, era o peito verdadeiro dele na época.”
Qual foi a crítica que ouviu sobre “Jornada II”?
Meyer: “As pessoas diziam: ‘Você não pode matar Spock’. Eu respondia que podia fazer qualquer coisa, mas que mataria ele em bom estilo. Isso tem um sentimento orgânico e não é como estarmos trabalhando sob a cláusula de um contrato.”
Como e quando surgiu a decisão de fazer Spock morrer?
Meyer: “Eu não lembro. Foi um dos cinco scripts originais. Não me lembro como ele morria nesses scripts. Apenas me lembro que eles todos imaginavam a morte de Spock como uma boa idéia. O encontro de Kirk com seu filho pareceu uma boa idéia também. De modo que nós materializamos isso com todas essas coisas que seguiram. A partir do momento em que esgotávamos a discussão sobre algo, passávamos para o próximo ponto.”
A intenção do filme era fazer com que Spock não mais retornasse a Jornada?
Meyer: “No fim do filme meu sentimento era de que Spock estava morto. Então quando a Paramount e árias outras pessoas viram o filme, eles pensaram que talvez nós tivéssemos deixado uma porta aberta no fim. Na época não gostei disso. Eu era jovem e talvez ingênuo. Apenas pensava que era injusto manipular a audiência desse modo. O pessoal tinha investido muito nesse personagem, e achava que se fôssemos ter de matá-lo, então o mataríamos. Não abalaria a audiência. Então, eles me pediram para fazer o próximo filme, o qual Spock estaria sendo ressuscitado. Eu disse que não sabia como fazê-lo ressuscitar. Eu nunca comprei muito essa idéia, então não aceitei. Mas no retrospecto, eu achava, que talvez nenhum dano fizesse a continuação da história (com o retorno de Spock). No entanto, ao mesmo tempo, isso me incomodava.”
A presença da atriz Kirstie Alley (Saavik) no filme foi indicação sua?
Meyer: “Sim foi. Ela trabalhou muito bem no filme. Ela me disse que, quando pequena, era louca por Jornada e sempre queria ser Spock, então eu dei uma chance a ela.”
Você chegou a trabalhar com Gene Roddenberry nos filmes de Jornada?
Meyer: “Nunca. Eu encontrei com ele várias vezes. Ele tinha a sua visão de como deveria trabalhar com esse material. Mas suas idéias nunca se encaixavam com as minhas. Eu estava escrevendo em uma música diferente, mas ele sempre foi cortês e foi o cara que começou tudo isso.”
Sabemos que você era pouco familiarizado com Jornada antes de fazer o segundo filme. Qual sua opinião a respeito de ter dirigido um dos melhores
filmes da franquia?
Meyer: “Eu só posso dizer o que pretendia, e posso apenas especular como o meu grau de familiaridade com Jornada representou para o que eu trouxe. Eu creio que minha irreverência permitiu um pouco da comédia, porque eu achava o primeiro filme muito sério e eu estava obviamente reagindo a muitas coisas que eu via nesse filme e não entendia muito. Parece que tinha perdido alguma coisa. Então a esse respeito, eu digo que sim, meu pequeno laço de familiaridade tornou-me útil. Eu nunca tive problemas nesse ponto. Eu fui autor também de três livros de Sherlock Holmes, e como Jornada, tem 60 histórias originais escritas por Conan Doyle. Eu li todas elas e li mais de uma vez, mas não tinha todas em minha mente, quando escrevi minha própria composição literária. Eu estava pouco interessado em ser cem por cento fiel a todos os incidentes que havia na série. Estava encontrando um espaço na cronologia onde pudesse inserir minha própria história. Uma coisa interessante é que Arthur Conan Doyle (criador de Sherlock Holmes) também freqüentemente esquecia os detalhes de suas histórias. Então eu suponho que minha atitude para com a fidelidade do material de Jornada teria de ficar dentro dos limites, mas não ter de ser cem por cento.”
Quais as suas impressões sobre a comunidade trekker?
Meyer: “Eu sempre tive um bom clima com os fãs, mas não perco muito do meu tempo com eles e tipicamente não vou a convenções. Mas uma coisa que aprendi é que simplesmente considerá-los como tolos é imprudente e deselegante. Existem muitos deles, existe todo um tipo de personalidade de fã. Você pode encontrar alguns fãs obsessivos e também pessoas que trabalham para a NASA. Isso tudo é paixão (pela série) e se isso os leva a se tornarem cientistas, muito bem. Se os leva a usarem uma antena na cabeça, durantes as convenções, eu suponho que haja capacidade criativa para isso também.”
O que você achou da boa aceitação pelos fãs e pela crítica de seu filme? Você ficou surpreso por isso?
Meyer: “Sim, com certeza. Nós sabíamos que era um bom filme antes de ser lançado. Todos do estúdio, que assistiram, tinham esse sentimento. Mas eu me lembrava das palavras do escritor William Goldman, que dizia que geralmente um filme quando agrada as pessoas, não agrada a crítica. Essa lição eu aprendi. Mas fiquei maravilhado em fazer esses filmes. Foi muito divertido. Eu olho para trás com algum orgulho, satisfação e prazer, quando penso neles.”
Nicholas Meyer, além de “Jornada II: A Ira de Khan”, também dirigiu e produziu os filmes “Jornada IV: A Volta para Casa” e “Jornada VI: A Terra Desconhecida”.