Eu sei que a grande maioria apenas acompanhou a série mais recente com Superman, a famosa “Lois & Clark – The New Adventures Of Superman”, que fez muito sucesso nos anos 90, inclusive na TV aberta brasileira, onde foi milagrosamente exibida na íntegra pela TV Globo. Mas a história de Superman na TV começou mesmo nos anos 50, quando a própria TV ainda parecia ser um invento saído de um filme de FC.
A idéia de levar Superman para a telinha pela primeira vez partiu do produtor Robert Maxwell, que havia cuidado da produção do seriado radiofônico sobre o homem de aço. Maxwell decidiu incumbir a Whitney Ellsworth a tarefa de escrever um roteiro para seu novo projeto. Os dois optaram por produzir um longa metragem para a TV pois estavam inseguros sobre a viabilidade da série. Assim sendo eles partiram para a Califórnia e, durante o verão de 1951, filmaram em pouco mais de 12 dias o que viria a ser o filme piloto da nova série, “Superman And The Mole Men”, já contando com George Reeves como Superman/Clark Kent. A história era FC pura, mostrando Superman combatendo uma raça de seres subterrâneos.
É bom frisar que este foi o primeiro longa metragem feito com Superman. O herói já tinha freqüentado a telona mas na forma de seriado, estrelado por Kirk Alyn.
Depois desse filme piloto a série acabou sendo aprovada mas sua estréia ocorreu apenas em 1953. Na prática a série era uma “versão com imagens” do velho seriado radiofônico que Maxwell havia criado nos anos 40. As histórias eram, claro, muito ingênuas para os padrões atuais, mas a série conseguiu agradar enormemente o público da TV daquele começo dos anos 50.
Um detalhe interessante era a abertura da série, que mostrava imagens com uma narração em off com aquele clássico texto enaltecendo as habilidades do Superman com frases tipo “mais rápido do que uma bala”. A abertura mostrava Superman em sua pose tradicional com a bandeira americana ao fundo, com o narrador reforçando o lema do personagem…ou seja…”defender a verdade, a justiça e o modo de vida americano”. Esse tom patrioteiro da série casava bem com o clima da época, marcada pela vitória recente na Segunda Guerra Mundial e pelos primeiros movimentos da Guerra Fria entre os EUA e a URSS.
Mas seria injusto dizer que Superman era um “boneco” nas mãos de um anti-comunismo simplista, que naqueles tempos era fortemente estimulado pelo movimento macartista nos EUA. Mesmo porque o macartismo abominava os super heróis das HQs, acusando-os de “perverter a juventude americana” (sic) e outros absurdos do gênero.
Mas a série não estava interessada em provocar polêmicas e Superman passava boa parte dos episódios enfrentando bandidos comuns. Isso ocorria por causa da produção precária da série, que não permitia efeitos especiais muito bons e, por isso mesmo, vilões mais sofisticados eram raros.
Quando a série foi cancelada, em 1957, acabou se tornando a primeira investida bem sucedida dos super heróis na TV. Mas, para a FC propriamente dita, a série foi importante por mostrar que era possível investir em FC na TV sem depender demais do formato das histórias de Buck Rogers ou Flash Gordon. A empatia que George Reeves conseguiu ter com o público foi também outro fator decisivo para o sucesso da série, mesmo Superman já sendo um personagem muito popular antes de estrear na TV.
Nos EUA “The Adventures Of The Superman” já está saindo em DVD. Com o breve lançamento do novo filme com o herói, é provável que a série seja mais lembrada e que até ganhe uma reprise em algum canal da TV paga. Mesmo tendo um valor muito mais histórico que propriamente artístico, a série tem agora aquele charme imbatível de “TV à lenha” que muitas produções televisivas dos anos 50/60 acabaram ganhando, apesar da ingenuidade de seus roteiros e dos pouco recursos de produção. Para um personagem tão popular e que já passou por altos e baixos, Superman até que se deu bem na TV, um meio onde a maioria dos super heróis acabaram prejudicados com adaptações ruins ou produções toscas de baixo orçamento.
Nada mal para um “estrangeiro ilegal” que chegou ao nosso planeta praticamente nas fraldas sem pai, nem mãe e acabou se tornando o símbolo de um certo tipo de “bom mocismo” americano que antes dele era representado por americanos da gema como os heróis das space operas dos anos 30/40 ou outros super heróis dessa mesma época, como o Capitão América. Para Superman, mesmo nos tempos mais difíceis, popularidade nunca foi problema…sempre rumando para o alto e avante, como o próprio “azulão” costumava dizer.
Alfonso Moscato escreve com exclusividade para o TB