Katsulas foi a prova cabal o quão descabido é esse preconceito. Ele deixou sua marca na ficção científica ao interpretar o embaixador narn G’Kar em Babylon 5. Embora Katsulas já fosse relativamente conhecido do público da FC por sua atuação em Jornada nas Estrelas, foi com G’Kar que ele construiu sua popularidade no rico universo da FC, atuando ao lado de Peter Jurasik (o embaixador centauri Londo Molari), ambos formaram uma das mais perfeitas duplas a atuar em uma série de TV, seja de que gênero for, isso é inquestionável.
Talentos como Katsulas e Jurasik, atores de sólida formação teatral, são mais considerados pelos críticos por seus trabalhos anteriores àqueles que os tornaram famosos. Isso ocorre pela visão míope que a crítica de cinema e TV tem da FC, um gênero que, fora da literatura, é geralmente visto como o império dos efeitos especiais. É evidente que esse preconceito era mais comum no passado quando, por causa do sucesso de Guerra Nas Estrelas, de George Lucas, se criou uma “regra” no cinema que filmes de FC só têm chance de fazer sucesso mostrando uma miríade de efeitos especiais de última geração, não importa se a história que estava sendo mostrada fosse boa ou não. Antes que os fãs de Guerra Nas Estrelas peçam a cabeça desse colunista, deixo claro que nunca concordei estigmatizar a obra de George Lucas por causa disso. A obra de Lucas não tem culpa nenhuma pela ignorância de muitos críticos sobre a FC.
Mas na TV, onde os recursos sempre eram menores pelo menos até os 70, essa “regra” nunca foi verdadeira. O que seria de “Além da Imaginação” sem seus grandes roteiros e os ótimos atores que atuaram na série? E o que dizer de Jornada nas Estrelas, que também teve várias histórias memoráveis e nomes da arte de representar como Ricardo Montalban abrilhantando suas três temporadas? Nas séries clássicas de Irwin Allen, atores como Richard Basehart e Jonathan Harris (de “Viagem ao Fundo do Mar” e “Perdidos no Espaço”, respectivamente) com sua formação teatral impecável, ajudaram a consolidar eternamente na memória do público as séries em que atuaram.
Mas provavelmente a série que ajudou a diminuir muito o preconceito contra os atores que ficam famosos fazendo FC no cinema e na TV foi mesmo “Arquivo X”. Mesmo que David Duchoviny e Gillian Anderson nunca tenham sido exatamente uma unanimidade no que diz respeito ao talento de atuar mesmo entre os fãs da série, é inegável que “Arquivo X” tem uma coleção curiosa de bons atores convidados e semi-regulares, graças ao universo de personagens bizarros que a série possuía, o que ajudou a tornar os atores de “Arquivo X” uma turma que despertava sentimentos contraditórios, ora de admiração…ora de um certo esnobismo pseudo- intelectual, que mal disfarçava a inveja do sucesso popular que a série angariou sem fazer muitas concessões aos postulados da TV comercial de sua época, pelo menos nas suas quatro ou cinco primeiras temporadas.
Hoje essa valorização do ator na FC está sendo tocada por séries como “The 4400” e, principalmente, “Battlestar Galactica”. Esta última conseguiu o que parecia ser quase impossível para alguns: fazer com que atores possam atuar em uma space opera sem a “teatralidade em excesso” um tanto comum nesse tipo de FC quando levada às telas.
Andreas Katsulas sempre será lembrado pelos fãs de “Babylon 5” e da FC em geral como G’Kar. Ele agora faz parte de uma confraria de atores que ajudou a enriquecer a FC e torná-la mais respeitada entre uma crítica que ainda tem muito que aprender sobre o gênero. Um Oscar ou um Emmy pode tornar um ator uma estrela…mas, atuando em filmes e séries de FC, um ator pode alcançar as estrelas propriamente ditas e um dia se tornar uma delas. Isso nenhum Oscar ou Emmy pode fazer por um ator como Andreas Katsulas.
Alfonso Moscato escreve com exclusividade para o TB