Coluna do Alf: “O que aconteceu com Andromeda?”

O Trek Brasilis estréia nesta semana uma nova coluna, voltada para o mundo da ficção-científica na televisão atual, sempre abordando séries que não são as de Jornada.

O encarregado dessa tarefa é Alfonso Moscato, muito conhecido dos frequentadores de fóruns de discussão sobre sci-fi na internet, como o FTB, aqui no TB, por exemplo. Moscato trará, regularmente em sua Coluna do Alf, análises e opiniões sobre a condição atual desse gênero televisivo e suas manifestações que tanto apreciamos.

Esperamos que você goste!

“O que aconteceu com Andromeda?”

Quando a série “Andromeda” estreou, a impressão que tive dela foi que teríamos de volta aquele clima de aventura de uma boa Space Opera. Nunca esperei “papo cabeça” da série e obviamente qualquer um poderia notar que o objetivo dela nunca foi ser “FC séria”.

Mas a verdade é que esta quarta temporada, atualmente exibida pelo canal AXN, é tão rocambolesca que começo a imaginar a confusão dos próprios roteiristas sobre o que estão fazendo. A opinião mais comum entre rodinhas de fãs de sci-fi é, quando se discute “Andromeda”, jogar quase toda a culpa pelo atual estado da série em Kevin Sorbo e seu ego do tamanho da Floresta Amazônica.

Sorbo é um ator muito limitado e seu sucesso com a série “Hércules” não servia como justificativa para ele ter sido escolhido para encarnar o capitão Dylan Hunt. Mas, Sorbo acabou se interessando pelo papel porque temia ficar preso a imagem de guerreiro mitológico que o êxito de “Hércules” havia lhe proporcionado. E, claro, os produtores da série queriam um astro em ascensão para AND (“Andromeda”, abreviado!).

Essa coincidência de interesses parecia ser um bom sinal na época… mas hoje é fácil constatar que Sorbo mais atrapalhou a série do que colaborou para seu desenvolvimento. Curioso é que, quando a série começou a ser produzida, Sorbo declarou que o que o atraiu para o projeto foi que, segundo ele, Hunt não seria uma mistura de Kirk com Picard. Incrível que tal declaração não tenha provocado certa antipatia do público trekker pela nova série. Afinal, AND era um projeto póstumo de Gene Roddenberry, e tal declaração poderia soar um tanto jocosa entre os fãs de Jornada. Mas os produtores não pareceram se importar tanto com isso e apostaram suas fichas em Sorbo.

É fácil criticar Sorbo, mas é ingênuo achar que ele seja o único culpado pelos rumos rocambolescos que AND acabou tomando. Primeiro, é preciso lembrar que, na verdade, nada sabemos sobre a concepção original da série que Roddenberry tinha, cujos primeiros rascunhos datam ainda dos anos 70. A viúva de Roddenberry, a atriz Majel Barret, encontrou esses rascunhos nos arquivos do marido junto com outros que também incluíam as idéias que dariam origem à série “Terra: Conflito Final”.

Majel nunca revelou explicitamente o conteúdo desses arquivos de Roddenberry. Por isso mesmo, quando AND estreou em 2000, Majel e o produtor executivo Robert Hewitt Wolfe já tinham elaborado várias modificações na idéia original de Roddenberry. Algumas inevitáveis, é claro, pois muita coisa obviamente mudou na produção de séries sci-fi nos últimos trinta anos. Mas é difícil não imaginar que algumas dessas mudanças acabaram prejudicando a série.

Está certo que AND não se tornou um novo fenômeno da sci-fi televisiva. A série estreou com “Stargate SG-1” ocupando esta papel. Também não conseguiu arrancar elogios da mesma forma que “Terra: Conflito Final”. Por isso AND acabou ficando no meio do caminho, sem saber que rumo tomar. Daí os roteiros cada vez mais amalucados, como podemos presenciar nesta quarta temporada. Tirando a beleza inquestionável do trio feminino que acompanha Hunt em suas andanças, não restou quase nada para a série continuar justificando sua continuidade. O resultado foi a decisão de encerrar a série na quinta temporada.

Uma pena, pois AND poderia ter rendido muitos frutos. Mas serve como lição de como é difícil fazer uma série sci-fi realmente funcionar e agradar o seu público e, ao contrário do que se pode imaginar, estampar o nome “Gene Roddenberry” nos créditos de abertura não é, necessariamente, garantia de sucesso.

Alfonso Moscato escreve com exclusividade para o TB