EDITORIAL: These were the voyages…

Na noite de hoje, serão exibidos nos Estados Unidos os dois últimos episódios de Enterprise — os dois últimos episódios de Jornada nas Estrelas. A franquia se despede de forma polêmica, num sussurro, e os fãs se perguntam quando, ou mesmo se, voltaremos a ver novos episódios ou filmes.

A imensa maioria dos apreciadores de Jornada que hoje acompanha a série (eu incluso) não teve de viver o drama de um cancelamento. Nos quarenta anos da franquia, só houve um até agora — o ocorrido em 1969, quando a NBC decidiu descontinuar a produção da Série Clássica.

Com apenas 79 episódios no bolso, Jornada nas Estrelas era então só uma série de TV que por pouco não teria nem o número suficiente de programas para ser reprisada em estações locais. O que transformou o fracasso de ontem no sucesso das últimas décadas? Os fãs. Eles conduziram Kirk, Spock e McCoy durante o hiato que separou duas gerações de Jornada nas Estrelas. Com fanfics, fanzines, romances, manuais técnicos, os fãs mostraram à Paramount, ano após ano, que ainda havia muita lenha para queimar naquele velho seriado.

E como queimou. Hoje, em sua segunda despedida, Jornada nas Estrelas deixa seus telespectadores com mais de 700 episódios — praticamente dez vezes mais do que eles tinham em 1969. A Série Clássica, A Nova Geração, Deep Space Nine, Voyager e Enterprise serão relembradas e reexibidas por muitas décadas. Nos próximos anos, alimentados por essas reprises e um insaciável desejo por mais jornadas, os fãs mais uma vez tomarão para si a responsabilidade de manter a chama viva, até que a Paramount mais uma vez resolva ressuscitar a franquia. (E, ao que tudo indica, desta vez não precisaremos esperar dez anos.)

Essa é uma responsabilidade e tanto, que todos os fãs terão de encarar com seriedade. Nós, do Trek Brasilis, certamente encaramos. Alguns chegaram a se perguntar se o cancelamento de Jornada era o fim de sites como o TB. Pois eu respondo, sem medo de errar, que o cancelamento é uma razão para prosseguirmos em nossa missão, com vigor e determinação ainda maiores. Jornada nas Estrelas precisa de seus estandartes, mais do que nunca, e é esse o legado que o TB pretende carregar adiante.

Mais do que uma obrigação, vemos isso como uma oportunidade. Acompanhe-me.

Em 1992, a Paramount Pictures decidiu que poderiam haver duas séries simultâneas de Jornada nas Estrelas em produção. No ano seguinte, Deep Space Nine estreava na TV americana, com uma cara bem diferente de sua predecessora, A Nova Geração. Diante de dois programas, vários fãs acabaram desenvolvendo uma apreciação maior por um do que por outro.

Com o fim da Nova Geração, veio Voyager, uma substituta que em tese tinha os mesmos moldes da série que acabava de terminar. Agora, os fãs tinham não só de pensar em qual era a sua favorita, entre Deep Space Nine e Voyager, como também julgar se Voyager era uma substituta à altura da Nova Geração.

Para muitos fãs que se alinharam com Deep Space Nine, a morte de Jornada nas Estrelas ocorreu em 1999. Os que se apoiaram em Voyager tiveram de pensar duas vezes antes de embarcar em Enterprise, que rompia com o padrão do século 24 e voltava no tempo, para antes de Kirk. Os fãs da Série Clássica em tese eram os maiores interessados, mas muitos não compraram uma “reinvenção” do período feita pelos mesmos produtores de Voyager.

Moral da história: os fãs que antes eram de Jornada nas Estrelas agora são de uma coleção de séries, em grupos distintos e nem sempre justapostos. Não é surpreendente que muitos não tenham dado apoio a Enterprise e o público em geral nem soubesse que havia uma série de Jornada nas Estrelas no ar. Um ar de desconfiança, de conflito, permeava as diferentes “tribos” trekkers.

Com o fim de Enterprise (que muitos, inclusive eu, lamentam), surge a chance de zerar o cronômetro. Em alguns anos, quando uma nova série aparecer no horizonte, todos os fãs, de todas as séries de Jornada, se sentirão na obrigação de dar a ela uma justa oportunidade.

A pausa permitirá a união dos fãs, algo que a continuidade de Enterprise jamais permitiria. Basta ver a polêmica criada ao redor do grupo Trek United, que queria salvar a série financiando sua produção. Teve tiro para todo lado, e o assunto chegou a ser proibido em vários fóruns de sites internacionais de Jornada.

Por isso, ninguém que se considera fã de Jornada nas Estrelas precisa encarar o momento atual com tanta tristeza. É hora de celebrarmos, juntos, os acertos e os erros do passado. Sim! Você, que só curte Deep Space Nine, use o tempo livre para encontrar as preciosidades de Voyager! Você, que acha que Jornada nas Estrelas só acontece numa nave estelar, dê uma chance ao capitão Sisko! Você, que largou tudo em A Nova Geração, conheça o passado de Jornada nas Estrelas com Enterprise!

Como quem já estava por aí em 1969 pode testemunhar, o melhor sempre ainda está por vir! Aproveite a carona e vamos em frente. Fator de dobra cinco, Sr. Sulu.