No ano passado (2003), a série Jornada Nas Estrelas: Deep Space Nine comemorou os seus dez anos de estréia na TV Americana e teve lançados em DVD todos os seus episódios (ainda somente no exterior). O Trekbrasilis publicou então uma série de artigos em sincronia com estes eventos, dentre os quais se incluem: um tributo pelos dez anos de estréia da série, um artigo completo para cada uma das temporadas inéditas na TV Brasileira (temporadas: quatro, cinco, seis e sete) e ainda um outro, também bastante abrangente, sobre os melhores momentos de DS9 como um todo. Cabendo mencionar ainda que os “extras” dos DVDs de DS9 receberão uma cobertura especial do TB em breve.
Na América, terminaram as reprises da série em syndication e agora DS9 é somente exibida pelo Spike TV, canal por assinatura de propriedade da Viacom, o conglomerado dono também da Paramount, a “dona” de Jornada Nas Estrelas. Neste final de semana também se completam cinco anos que a série teve o seu último episódio exibido pela primeira vez em sua terra pátria. Se existe alguma relação entre tais acontecimentos e a compra e exibição de episódios inéditos da quarta temporada pelo “nosso” canal USA, o autor não saberia precisar. E nem é este o motivo da escrita desta nota.
O autor acompanha as séries modernas de Jornada desde a primeira temporada de DS9 (e obviamente a sexta temporada de A Nova Geração), tendo assistido cedo naquele ano de 1993 ao piloto da série de Sisko e cia. Fácil o melhor piloto da franquia, um dos melhores considerando séries em geral. O qual até hoje impressiona pela profundidade e pela originalidade. Apesar da imediata identificação na época e da “suspeita” de que uma paixão pela série poderia brotar dali, faltava perspectiva com relação à Jornada como um todo.
Um grande problema no começo desta familiarização de fato com as séries modernas da marca foi o excesso de episódios a serem assistidos. Não somente “chegavam” episódios “saídos do forno”, mas também episódios da turma de Picard das temporadas de números “dois” a “cinco” (a primeira já era conhecida na época), dentre outros “episódios atrasados” por motivos diversos. Com a ida de A Nova Geração para a tela grande tal “dispersão” chegou mesmo a piorar, com “Generations” e depois a estréia de Voyager. Era simplesmente informação demais a ser assimilada. Que dirá interpretada.
Cabe informar que esta realidade pessoal foi devida a uma amplificação (em virtude do grande número de episódios ainda não vistos) do problema de saturação que já atingia a franquia. A menção é feita uma vez que este problema de “déficit de episódios” é bem conhecido dos fãs nacionais da marca e via de regra ele é “resolvido” com uma boa “overdose de segmentos” mesmo.
O ano de 1995 (o mesmo da estréia de Voyager) trouxe um crescimento dos grupos de discussão on-line, que ajudaram na formação de opinião própria, ainda assim muito enevoada e ainda dentro do ingênuo e simplório: “Jornada é tudo bom!”. A primeira vez que a opinião deste escriba entrou realmente em foco a respeito de Jornada foi após assistir a segunda temporada de Janeway e sua trupe. Ficou absolutamente claro que Voyager era uma série drasticamente inferior às outras da marca naquele ponto. A já famosa “trilogia do terror” (TM) da terceira temporada sacramentou a questão indicando que a série nunca iria se livrar da própria mediocridade e foi isto exatamente o que aconteceu. Foi também fácil naquele ponto, voltar dois anos e entender realmente como foi ruim a última temporada de A Nova Geração e identificar ali as raízes dos mais gritantes e crônicos problemas de Voyager, até os produtores e roteiristas comuns a ambas produções. Naquele ponto (meados de 1996) nascia um fã extremamente crítico da marca, mas também, talvez como nunca, completamente apaixonado por tal universo ficcional.
Obviamente junto com a segunda temporada de Voyager chegara a quarta temporada de DS9, obviamente o “acaso” não faz serviço pela metade. É certo que havia uma certa trepidação no ar com a entrada de Worf no elenco (assim como houve com a adição da Defiant a série um ano antes) devido ao medo do programa ser descaracterizado (além das várias mudanças cosméticas que já haviam sido anunciadas). Isto nunca aconteceu. Ver “The Way Of The Warrior” pela primeira vez foi um extremo prazer, foi algo de diferente, mas ainda assim 100% DS9. Por ser uma série sempre tão intimista, tão “para dentro” dos seus personagens, tais “grandes mudanças” nunca foram problema. Ao posicionar o definitivo episódio de personagem, “The Visitor”, logo em seguida na ordem de exibição, foi apenas uma maneira de enfatizar o que já era claro.
É meio difícil precisar quando uma série se torna a favorita. “Emissary” fez brotar interesse e simpatia, “Duet” criou um (na falta de melhor termo) Niner, mas foi “The Visitor” que colocou tudo que veio antes em perspectiva, mesmo modificando a compreensão da série até aquele ponto. Tal segmento (um dos favoritos, mas não “O” favorito pessoal que fique claro) foi o proverbial “certo no momento certo”. “The Visitor” fez o “nevoeiro sumir” em definitivo, ele tornou claro vários aspectos e temas recorrentes da série, como: a tendência a “olhar para o passado para ver mais distante no futuro” (o que é especialmente claro, na perspectiva pessoal de hoje, nas referências – nada elementares ou superficiais – a filmes clássicos do Cinema); o verdadeiro amor pela arte de contar histórias (e da compreensão do seu significado) e aparentar possuir um “coração velho como a terra” que zela pela perenidade e relevância.
Assistir a quarta temporada de DS9 oito anos atrás foi uma experiência de cara memória: por ter marcado um momento em que, como descrito acima, uma melhor compreensão pessoal de Jornada Nas Estrelas foi finalmente possível e também por ter sido uma experiência absolutamente satisfatória em termos emocionais (“…eu saboreei aquelas histórias.”).
Talvez seja uma boa época para (re) viver tais lembranças.
Peldor Joi