Convenção Capitão Spock: Primeiro Contato

Quando primeiro se anunciou que Leonard Nimoy seria o astro convidado da próxima convenção da Frota Estelar Brasil, houve uma questão que me ocorreu, antes da questão “Chance de ver ao vivo Leonard Nimoy”, antes do que quer que fosse. O que primeiro me ocorreu foi que aquele evento que surgia no horizonte seria um que tinha potencial de contar com todos os fãs que tivessem quaisquer meios que fossem de estar presentes.

E, desta forma, devo dizer que aquilo que me incentivou a estar presente foi não apenas a chance de conhecer o protagonista de Spock, mas também de todos os colegas fãs de Jornada nas Estrelas que também iriam estar lá presentes. Eu estava esperando que o todo do evento fosse maior do que a soma de suas partes. E, terminada a convenção, foi exatamente esea a impressão que tive.

É um novato em convenções, este que lhes escreve. Em toda a minha vida estive apenas em uma convenção pequena, em 1999, quando morando nos EUA, fiquei sabendo de uma convenção em um Holiday Inn em Nova York, com a presença de Armin Shimerman, o protagonista de Quark, e outros alumni menores de DS9, bem como Lolita Fatjo, da equipe de produção. Então, esea seria somente o meu segundo evento de porte sobre a franquia, e a minha primeira convenção da Frota Estelar Brasil. Apesar de conhecer as linhas gerais daquilo que ocorre em uma convenção, devo confessar que cheguei sem saber exatamente o que esperar.

Bem, posso dizer que a experiência em geral me agradou largamente. Antes de qualquer coisa, a organização geral me deixou uma ótima impressão. Tudo muito bem coordenado, sem incidentes desagradáveis ou desencontros. Claro que sempre se nota as coisas que poderiam ser melhores, como nas oportunidades em que era requisitado que membros da platéia fizessem suas perguntas. Acredito que teria sido melhor encaminhar as pessoas que requisitavam a palavra para um microfone em um tripé, ou, no mínimo, haver um par de membros da organização para encaminhar microfones sem fio até o local onde se encontrava a pessoa. As traduções em si das questões deram várias escorregadas, mas, seja como for, fiquei satisfeito com o andamento do evento em si, resultado de uma boa experiência e preparação para isso, sem dúvidas.

O ponto alto em particular do evento, desnecessário dizer, foi quando Leonard Nimoy entrou no palco. Um momento espetacular, certamente, tanto pela presença deste importante ator da franquia como pela recepção demonstrada pelo fandom brasileiro, que em pé o aplaudiu por longo tempo. Algo que me agradou mais do que a chance de ver de perto Nimoy per se foi constatar a excepcional presença de palco do ator, que demonstrou um apelo incrível. O homem é ligeiro, e não perde o rebolado quando surge a necessidade de uma tirada de efeito ou colocação irônica qualquer. Um ator que vale a reputação que tem, não há a menor dúvida.

Dos demais eventos programados para a ocasião, o que mais me agradou além das palestras de Nimoy e Arnold foi sem dúvida o documentário “Mind Meld”, com William Shatner e Leonard Nimoy. Eu não conhecia este documentário, e devo admitir que não esperava muito dele, mas felizmente isso se provou ser uma impressão equivocada. Achei a execução da conversa entre os dois extremamente agradável, com informações bastante interessantes.

A se mencionar também foi a questão dos autógrafos. Tornando uma longa história curta, coloco desta maneira. The good: Quem fez questão de ter um autógrafo, conseguiu. A fila andava rápido, apesar da quantidade considerável de pessoas, e, pelo que parece, todos que entraram nela saíram com autógrafo. The bad: O autógrafo estava custando 50 reais, fosse você VIP ou não. The ugly: A possibilidade de isto ocorrer não foi declarada com grande antecedência – para muitos, apenas durante a própria convenção. Mas vamos falar mais disto.

Segundo consta, conseguir um ingresso não era algo totalmente assegurado para o VIP, dado que é facultado ao ator assinar ou não, sob que circunstâncias assinar etc. Mas talvez algo com que, creio eu, muitos desses VIPs não contassem era que, no caso de efetivamente conseguirem o autógrafo, teriam de gastar ainda mais algum dinheiro para isso. Afinal de contas, aquilo que deve ter motivado muitas pessoas a adquirir o VIP foi que isso lhes daria uma chance maior de conseguir o autógrafo, mas sem maiores gastos. Se algumas dessas pessoas soubessem de antemão que para conseguir o autógrafo bastaria entrar em fila para comprá-lo, então estas pessoas talvez não tivessem optado pelo VIP em primeiro lugar, uma vez que, já que se está cobrando por ingressos, quanto mais fossem emitidos, melhor seria para o emitente destes. Isso por si mesmo talvez fosse uma garantia de conseguir um autógrafo.

Sim, há de se considerar que esta prática de cobrar por autógrafo não é nada incomum, é algo que faz parte de qualquer convenção do gênero nos EUA. Ademais, eu também especulo que a cobrança pelo autógrafo pode ter sido cláusula necessária para ter viabilizado a vinda de Nimoy para o Brasil. Tudo muito justificável, mas que ainda assim pareceu não deixar a melhor das impressões em uma parcela considerável do fandom ali presente, para se dizer o mínimo.

Se eu adquiri um autógrafo? Bem, é uma pergunta pertinente, claro. Mas antes, acho interessante mencionar algo dito por William Shatner em “Mind Meld”, que passou na própria convenção, como já se sabe. Em dado momento, Shatner comenta com Nimoy que, atualmente, muitas vezes lhe desagrada quando alguém, onde quer que seja, lhe estende uma foto e pede para que a autografe. Ele muitas vezes recusa, alegando que provavelmente aquela pessoa acabará colocando aquela foto autografada a leilão, vendendo-a na internet, e assim por diante. Eu acho que Shatner tem razão neste ponto. Considero a posição dele válida tanto quanto considero a minha válida, ou seja, não ter de pagar para poder ter um autógrafo de uma celebridade. Pessoalmente, acho que um autógrafo dado a um fã é algo que deveria ser uma pequena retribuição pessoal do ator à atenção que seu fã dedica a ele, algo que seria melhor estar livre de ser mesurado com preços.

Agora, a partir do momento que um ator cobra por este autógrafo, então, no meu ver, o apego pessoal a este ato se perde, e, neste caso, ambas as partes, ator e fã, passam a encarar o autógrafo como uma commodity, que se emite, se vende e se compra de uma maneira desconcertante, como tive a chance de constatar pelo leilão de autógrafos de Richard Arnold. No meu ver, adquirir uma foto diretamente do seu emitente ainda até tem algo pessoal, embora se esteja pagando por ela; mas adquirir uma foto autografada de terceiro é algo que realmente não significaria absolutamente nada para mim, pois isso sequer representa uma lembrança palpável de um encontro pessoal com a pessoa admirada.

Mas enfim. Seja como for, pagar por um autógrafo, seja este de primeira mão ou não, é algo que realmente não me incentiva a buscar um; desta forma, não saí de lá com um autógrafo e devo confessar que não foi uma decisão muito difícil de fazer.

Concluindo, me agradou muito ter estado presente nesta 123ª Convenção da Frota Estelar, e não posso dizer que nenhum dos pontos com os quais tive reservas ou ressalvas chegaram sequer perto o bastante de dissipar minha ótima impressão do evento em geral. E, no momento de despedida, constatei que aquilo que eu mais esperava do dia realmente se mostrou aquilo que mais me satisfez como um todo, que foi a interação com o fandom, os amigos revistos, os amigos ali conhecidos e os ótimos momentos que a vinda de Leonard Nimoy nos proporcionou a todos. Não estive ali para ver apenas Leonard Nimoy. Como muitos outros, estive ali para ver Leonard Nimoy e ver meus colegas de fandom.

Leandro M. Pinto é articulista do Trek Brasilis.