A última grande cobertura de um evento ligado a Jornada nas Estrelas feita pelo Trek Brasilis foi a estréia nacional de “Nêmesis”, o novo filme da série nos cinemas. Na ocasião, o site trouxe nada menos que sete resenhas inéditas do filme, produzida por diversos colaboradores.
Os títulos: “Certeza do dever cumprido”, “Medonha despedida”, “Um filme que eu queria gostar”, “A última missão ou o fiasco final?”, “Perguntas que eu não deveria fazer”, “Epitáfio” e “Sem ‘Jornada’ no título. Ainda bem”. Dos sete, apenas um deles denotava uma avaliação positiva, e outro tinha um tom neutro. Os demais eram todos claramente negativos.
Coberturas como essa levam alguns a cogitar a hipótese de que o Trek Brasilis tenha por missão não-declarada denegrir a imagem de Jornada nas Estrelas — “criticar com ferocidade os problemas e elogiar comedidamente os sucessos”, “aproveitar toda e qualquer oportunidade para apontar a crise da franquia”, “fazer o possível e o impossível para afastar potenciais novos fãs” são algumas das acusações mais frequentes que emergem de listas de discussão e fóruns paralelos voltados para o público trekker.
Por mais que essas críticas surjam em ambientes alheios ao TB (em vez de serem diretamente apontadas a nós, o que certamente seria mais útil, produtivo e honesto — até instituímos recentemente o cargo de Ombudsman para lidar com as necessidades de nosso leitor apropriadamente), é óbvio que a informação acaba chegando até os editores.
O que nos leva a refletir: será que o TB está cumprindo seu papel adequadamente? E, mais ainda, será que esses críticos estão cientes da real função e dos objetivos do site?
Antes de mais nada, é bom que se diga: o Trek Brasilis não é “apenas” um site sobre Jornada nas Estrelas. Na verdade, a proposta e o objetivo sempre foram de ser um site que faz uma leitura crítica do fenômeno Jornada nas Estrelas.
Todos os editores e colaboradores do site são absolutamente apaixonados por essa franquia de 36 anos, 10 filmes e mais de 600 episódios televisivos. Apaixonados. Mas, ao mesmo tempo que nutrimos enorme admiração por Jornada nas Estrelas, procuramos nos distanciar ao máximo da idolatria.
Façamos a distinção. Pelo Aurélio, admiração pode ser vista como “consideração, respeito, estima, afeição, inclinação, simpatia”. Idolatria, em contrapartida, quer dizer “culto prestado a ídolos; amor ou paixão exagerada, excessiva”.
O dia em que um homem perde a noção da diferença entre admiração e idolatria é o mesmo em que ele decide matar o torcedor de um time de futebol adversário, calar aquele que se levanta contra suas próprias opiniões e agride, verbal e fisicamente, aqueles que não seguem seu estilo de vida e seu modo de viver.
Essa é uma distinção que o TB faz questão de recordar a cada dia. Admirar Jornada nas Estrelas, sim. Idolatrar, não. E por essa razão, somos todos capazes de criticar imensamente a franquia e ainda assim apreciá-la. Para a mente racional, não há paradoxo ou contradição entre essas duas posturas. Só para aquele que considera a “idolatria” como modo de vida há uma incompatibilidade entre gostar de uma coisa e criticá-la — afinal, para esses, a Verdade está nos ídolos, não nos olhos de quem vê.
Para esses, Jornada nas Estrelas é uma entidade que não é passível de enganos. E, mesmo que fosse, todos eles deveriam ser relevados e varridos para debaixo do tapete, “pelo bem da Causa”.
Aqui no TB, não há uma Causa. Não há catequização. Não há “ídolos”, “deuses”, Verdades acima do bem e do mal. E isso se traduz em cada texto, em cada nota, em cada artigo, em cada resenha. O principal objetivo é despertar em cada fã o espírito crítico, elevá-lo da idolatria à genuína e justificada admiração.
É muito mais bonito admirar Jornada nas Estrelas do que meramente idolatrá-la — porque a admiração tem uma razão de ser.
Questões de convicção pessoal e de fé são, sim, válidas para cada ser humano. Mas o TB entende que Jornada nas Estrelas não é uma religião e não deve ser encarada como tal. No catolicismo, há o dogma da infalibilidade papal — o que o papa diz necessariamente é correto.
O TB é incapaz de assimilar a versão trekker dessa norma. Não há infalibilidade “produtor-executival”. O que Rick Berman, Gene Roddenberry, Brannon Braga e Michael Piller dizem não é, necessariamente, a Verdade. E os episódios de Jornada não são parte de algum livro sagrado, que não deveria, por princípio, ser contestado.
Talvez essa constante luta pela manutenção do espírito crítico acima de qualquer paixão incomode a alguns “fãs” mais destemperados. E, numa nota pessoal, fico feliz que eles se sintam incomodados pela presença do Trek Brasilis. Pois, para empregar uma expressão de Carl Sagan, nós só estamos tentando jogar alguma luz neste “mundo assombrado pelos demônios” em que vivemos hoje. E o incômodo desses “críticos acríticos” só mostra que estamos no caminho certo.
Para deixar claro, de uma vez por todas: o TB não é contra Jornada nas Estrelas. Somos contra fanatismo religioso.