REVIEW: Edição Especial de “Jornada III”

Ontem, 22 de outubro, foi lançado nos Estados Unidos a Edição Especial de Jornada nas Estrelas III – À Procura de Spock em DVD. Não se sabe quando (e se) essa versão chegará no mercado brasileiro, mas não é por isso que o leitor do Trek Brasilis vai ficar sem saber detalhes do disco duplo.

O famoso site norte-americano The Digital Bits trouxe um completo review do DVD, que o TB reproduz a seguir. A tradução do texto para o português ficou a cargo de Ivanildo Pereira, membro do Fórum do Trek Brasilis.

Review

Jornada nas Estrelas III – À Procura de Spock – Edição Especial
Star Trek III: The Search For Spock – Special Collector’s Edition

por Bill Hunt, editor do The Digital Bits

Classificação do filme: C
Notas do DVD (Vídeo/Áudio/Extras): A-/B+/C+

Especificações e extras:

Disco 1: O Filme

105 mins.; formato widescreen (2.35:1), realçado para TV anamórfica; lado único de leitura; camada dupla; embalagem dupla; comentários em áudio (diretor Leonard Nimoy, roteirista / produtor Harve Bennett, diretor de fotografia Charles Correll e atriz Robin Curtis); texto comentário em legendas de Michael Okuda (co-autor de The Star Trek Encyclopedia); livreto de produção; menus animados com sons e música do filme; seleção de cenas (11 capítulos); línguas: Inglês (DD 5.1 e 2.0 Surround) e Francês (2.0 Surround); legendas em inglês (Closed Captioned).

Disco 2: Material Suplementar

5 documentários: Captain´s Log (Diário do Capitão, 26 mins., 16×9 e DD 2.0); Terraforming and the Prime Directive (Terraformação e a Primeira Diretriz, 26 mins., 16×9 e DD 2.0); Spacedocks and Birds Of Prey (Docas Espaciais e Aves de Rapina, 28 mins., 16×9 e DD 2.0); Speaking Klingon (Falando Klingon, 21 mins., 16×9 e DD 2.0) e Klingon and Vulcan Costumes (Roupas Klingons e Vulcanas, 12 mins., 16×9 e DD 2.0); Trailer Original do Cinema (16×9 e DD 2.0); Trailer Teaser de Star Trek Nemesis (4×3, DD 2.0); Easter Egg (tesouro escondido) documentário sobre os efeitos das criaturas – 7 mins., 16×9 e DD 2.0); arquivo de storyboards de 10 cenas (16×9); galeria de fotos da produção; menus animados com sons e música do filme; legendas em inglês.

Resenha e comentários

“Foi a melhor das épocas, foi a pior das épocas…”

Ok, essa não é uma citação de Jornada nas Estrelas III. Fãs do mundo inteiro sabem que é uma frase de Dickens (do Conto de Duas Cidades – A Tale Of Two Cities), usada em Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan. Mas se aplica ao filme muito bem. À Procura de Spock é alternadamente uma excitante e comovente aventura sci-fi… e uma completa frustração.

A história começa onde Jornada II parou. Kirk e companhia derrotaram Khan e estão voltando para casa a bordo de uma danificada Enterprise. Mas Spock se foi, tendo dado a vida para salvar a nave do último suspiro de Khan – o dispositivo Gênesis roubado. Seguindo o costume da Frota Estelar, Spock foi “enterrado no espaço”, seu corpo foi disparado dentro de um caixão (similar a um torpedo fotônico) para a atmosfera do recém formado planeta Gênesis. Como se a perda de seu amigo não fosse o bastante, nossos heróis são informados, ao chegar à Terra, que a Enterprise está para ser descomissionada e a tripulação dispersada.

Mas na pior hora do capitão Kirk, surge um brilho de esperança. O pai de Spock, Sarek (Mark Lenard) o informa que Spock pode não estar totalmente perdido. Pouco antes de morrer, Spock conseguiu transferir sua alma para o Dr. McCoy, através de um elo mental vulcano. Se Kirk conseguir recuperar seu corpo do planeta Gênesis, os vulcanos podem reunir corpo e alma… e Spock talvez viva novamente. Mas há um problema – a Frota Estelar declarou quarentena em Gênesis e negou o pedido de Kirk de levar a Enterprise à sua missão final. Kirk e sua equipe são forçados então a uma escolha: roubar a Enterprise e destruir suas carreiras ou perder seu amigo para sempre. Para piorar, eles se verão frente a um implacável capitão klingon (Christopher Lloyd), que está determinado a roubar o segredo do dispositivo Genesis para o Império Klingon.

O terceiro longa metragem da série cinematográfica de Jornada é extremamente frustrante. Escrito e produzido por Harve Bennett e dirigido por Leonard Nimoy (ninguém menos que o próprio Spock), o filme até começa bem, com nossos heróis vitoriosos (porém emocionalmente abalados) lambendo suas feridas. A aparição de Sarek adiciona um pouco de mistério e esperança, e os Klingons entram no filme para fornecer perigo e drama. E quando a ação começa, é muito bom – a seqüência em que Kirk e companhia roubam a Enterprise é de 1ª categoria. Mas então o filme entra na sua parte fraca, com uma pobremente escrita subtrama envolvendo o filho de Kirk, David e a Tenente Saavik explorando o planeta Gênesis e encontrando o corpo de Spock, agora regenerado como um menino que envelhece rápido. Alguns diálogos aqui são terríveis, como estes:

Saavik: “É hora da verdade entre nós. Este planeta não é o que você esperava.’

David: “Não.”

Saavik: “Por quê?”

David: “Eu usei proto-matéria na matriz de Gênesis.’

Saavik: “Proto-matéria… uma substância instável que todo cientista ético da galáxia denuncia como perigosamente imprevisível.’

Bem, há muita explicação excitante aqui, não? E não ajuda que a atriz Robin Curtis (que assumiu o papel de Saavik depois que Kirstie Alley pediu mais dinheiro que William Shatner para repetir o papel) é simplesmente terrível. E ainda, devido a limitações financeiras, a maioria das cenas do planeta Gênesis foram filmadas em estúdio e dá para perceber – o meio do filme parece um episódio ruim de Perdidos no Espaço. Some a isso a outra subtrama sobre o corpo de Spock envelhecendo e passando pelo equivalente vulcano da puberdade e você tem mais do que o necessário para matar o filme (ou, aliás, qualquer filme).

Mas ainda existem momentos de brilho. Christopher Lloyd está incrível como Kruge, o capitão klingon que coloca sua pequena ave de rapina contra a Enterprise de Kirk. O confronto mano-a-mano dos dois no final é maravilhoso, trazendo sérias repercussões tanto para Kirk quanto para os fãs em geral. E também há momentos de muito bom humor com o elenco de apoio familiar de Jornada – McCoy, Scotty, Sulu, Chekov e Uhura. Esses elementos quase compensam as deficiências do filme. É isso que faz de Jornada nas Estrelas III tão frustrante no final – você gosta e odeia o filme, alternadamente.

Seguindo a tendência dos filmes do franchise, a Paramount lançou anteriormente uma versão magrinha do filme em DVD, e agora criou esta edição especial em 2 discos para fazer os fãs felizes. A transferência do filme em widescreen anamórfico para este novo DVD é a mesma já lançada na edição anterior, em duas camadas ao invés de uma. A imagem era, em geral, muito boa, entretanto o negativo às vezes parecia deficiente. Apareciam algumas granulações de poeira que poderiam (e deveriam) ter sido removidos. Agora, o negativo foi melhorado e as cores exibidas aqui são maravilhosas – sempre vibrantes e reais. Para melhorar, o contraste é impressionante, com profundos tons de preto e muitos detalhes de sombras. Um toque de melhoramento é visível, mas não distrai. No geral, o disco tem imagem muito boa para um filme de 1984 lançado em DVD.

Como nos DVDs anteriores, o áudio também não desaponta. Todos os filmes de Jornada em DVD tiveram som Dolby Digital 5.1 muito ativo, e este não é exceção. Há muitos e bonitos efeitos direcionais na mixagem, e o baixo é simplesmente um trovão. Ouça a nave klingon descamuflando no capítulo 1 (cerca de 9 minutos de filme) – é simplesmente impressionante. O problema do nível dos diálogos da versão anterior foi resolvido. Na versão antiga os diálogos eram deficientes na mixagem – agora parecem ter melhor presença.

Como esperado, a Paramount produziu uma substancial quantidade de material bônus para este relançamento. O disco 1 inclui uma decente faixa de comentário em áudio do diretor Leonard Nimoy, freqüentemente acompanhado pelo roteirista / produtor Harve Bennett e menos freqüentemente pelo diretor de fotografia Charles Correll e atriz Robin Curtis. Nimoy é muito divertido de se ouvir, sempre dando interessantes insights e anedotas. O filme foi sua primeira incursão na direção, e a história que ele conta sobre como conseguiu o trabalho é muito interessante por si só. Deixe-me só dizer que há muitas referências (tanto aqui como nos documentários) ao cabeça da Paramount na época Michael Eisner que, embora polidas, fazem o cara parecer um palhaço (alguém surpreso? Não? Eu também não). Vou deixar vocês se divertirem com isso em grandes detalhes.

Como nas edições especiais anteriores de Jornada, em adição ao comentário em áudio, há outro ótimo comentário em texto no disco pelos autores (e consultores de Jornada) Michael e Denise Okuda. Tem muitos factóides interessantes aqui até para o Trekkie / Trekker mais faminto (por exemplo, você sabia que a Ave de Rapina klingon é mais ou menos do mesmo comprimento que o foguete Saturno V que lançou astronautas à lua? Não? Eu também não).

Pena, enquanto o disco 1 não desaponta, o disco 2 mostra novamente o mesmo tipo de documentários pouco inspirados e com “cabeças falantes” que vimos na edição especial de A Ira de Khan. Não me entenda mal – ainda há muita coisa interessante aqui, e os entrevistados são muito interessantes. Os documentários também são apresentados na proporção de tela 16×9, o que eu gostei. Mas a qualidade de produção deles mostra de novo uma grande falta de entusiasmo e mesmo de habilidades de câmera. De novo, a câmera está muito fechada no rosto das pessoas, a filmagem treme, as entrevistas são feitas com as pessoas sentadas na sombra contra um fundo iluminado, a filmagem é feia, etc. Eu poderia continuar, mas essa tarefa exigiria mais esforço do que eu gostaria de aplicar a ela. Dada a alta qualidade dos documentários que podemos ver em DVDs hoje em dia, esse pouco esforço visto realmente causa aflição. Espero que a Paramount faça necessárias mudanças na sua equipe de produção para as futuras edições especiais de Jornada.

Bem, vamos falar do que temos. Diário do Capitão mostra de forma geral a produção, acompanhado de entrevistas (a maioria de “cabeças falantes”), intercaladas com cenas do filme e fotos. Os entrevistados são Nimoy, Shatner, Bennett, Curtis, Christopher Lloyd e outros membros da produção. E sim, Shatner ainda é um canastrão (você tem que amá-lo). Terraformação e a Primeira Diretriz mostra entrevistas de cabeça com cientistas do JPL e do autor sci-fi David Brin. Eu sou muito interessado em exploração do espaço, e tudo que é discutido aqui é muito legal para mim. Mas poderia ter havido uma discussão realmente interessante sobre a ciência por trás das idéias que o filme mostra. Infelizmente, este documentário faz tudo parecer tão excitante quanto assistir pintura a seco. Eu tinha mais esperanças para Docas Espaciais e Aves de Rapina, Falando Klingon e Roupas Klingon e Vulcanas (que mostram os efeitos especiais da ILM, o desenvolvimento da língua falada no filme e o figurino, respectivamente). Quero dizer, era uma grande chance para abrir os arquivos e alguns engradados empoeirados e dar uma boa olhada nos modelos, naves e roupas do filme, certo? Errado. Tirando uns pequenos modelos de estudo, desenhos e fotos de produção, você não vê muita coisa aqui. De novo, a maioria é de entrevistas com cabeças. Francamente, o melhor extra do disco 2 é a galeria de storyboards de cada grande cena do filme (10 no total). Você também ganha uma galeria de fotos (tiradas dos bastidores e imagens do filme), um trailer em formato anamórfico deste filme e um trailer não anamórfico de Star Trek Nemesis (Um trailer em tela cheia do novo filme? D’oh!). Finalmente, um Easter Egg escondido no disco 2, que leva a um documentário sobre os efeitos das criaturas do filme.

Jornada nas Estrelas III não é o melhor filme da série, mas está longe de ser o pior também. Ainda serve como uma adequada ponte entre dois dos melhores filmes de Jornada, e é notável como o primeiro esforço de Nimoy atrás das câmeras. Dito isso, o filme merecia um maior trabalho em termos de material especial para este DVD. A imagem e o som são bons, e os comentários são bem vindos. Mas a Paramount precisa realmente de alguém que saiba produzir material documentário decente (e que tenha um envolvimento emocional na coisa) para o disco de Jornada nas Estrelas IV e outras futuras edições especiais de Jornada. Telefonar para casa pode ter funcionado para o bom e velho E.T., mas no universo de Jornada, talvez um bando de klingons enfezados acabe batendo na sua porta.

Traduzido por Ivanildo Pereira com exclusividade para o Trek Brasilis