Sempre antenado com o que acontece no mundo da ficção-científica, o Trek Brasilis traz especialmente para você, fã da saga de George Lucas, um review praticamente livre de spoilers de Star Wars Episode 2 – Attack of the Clones.
Nosso colunista Luiz Felipe do Vale Tavares já assistiu ao filme e traz suas impressões. Leia a seguir e descubra se Episode 2 conseguirá apagar da mente dos Jedis espalhados pelo mundo os erros de Episode 1 – The Phantom Menace.
Star Wars Episode 2 – Attack of the Clones
Por Luiz Felipe do Vale Tavares
Irei me dedicar nesse texto a falar sobre o filme sem entrar em detalhes, para não estragar a surpresa de ninguém, e garanto que há várias boas surpresas nesse filme (surpresas que não ouso mencionar aqui).
George Lucas está quase perdoado pelo sofrível “Episódio 1: A Ameaça Fantasma”. Os fãs podem ficar mais tranqüilos agora, pois parece que a Força está novamente ao lado de Lucas.
É sem dúvida o filme de Star Wars mais divertido no tocante a ação e aventura, quase ininterruptos. Bem melhor do que “A Ameaça Fantasma” e até mesmo um pouco melhor do que “O Retorno de Jedi”. Mas ainda está longe de ser tão bom quanto “Império Contra-Ataca” e o original “Guerra nas Estrelas”.
O filme não é perfeito, longe disso. Tem ainda alguns problemas que infestaram “A Ameaça Fantasma”, como alguns péssimos diálogos e cenas de humor fora de lugar.
Acredito que o maior problema do “Ataque dos Clones” seja justamente o Episódio 1. Quando George Lucas fez esse último deve ter achado que tinha tempo de sobra para contar a história que resultou na primeira trilogia e desenvolver todos os personagens sem muita pressa. Como ele estava miseravelmente enganado! O Episódio 1, levando-se em conta todos os acontecimentos que devem acorrer até o fim do futuro Episódio 3, é uma total perda de tempo. Pouquíssimos eventos do Episódio 1 serviram para alguma coisa no mundo de Star Wars e agora que George Lucas percebeu isso tentou consertar às pressas esses erros no Episódio 2 e como resultado temos um filme com tantos acontecimentos, com tantos desdobramentos, com tantas informações, que uma pessoa que não esteja familiarizada com a série ficará totalmente perdida.
O que dá para aproveitar do Episódio 1 ? Vejamos : a origem de Anakin Skywalker, o primeiro encontro de Anakin com Obi-wan, a origem de C3PO, a origem de R2D2, a subida de Palpatine para o cargo de Supremo Chanceler, o encontro de Anakin com Padme (sua futura esposa e mãe de Luke e Leia) e só. O resto dos acontecimentos do filme dá para jogar no lixo, pois nada dá para se aproveitar em relação à trilogia.
Um dos problemas do “0 Ataque dos Clones” que deixará muitos fãs decepcionados é a falta de interação entre Anakin e Obi-wan. O Episódio 1 também decepcionou muito pois não mostrou nenhuma interação entre os dois. O Episódio 2 persiste no mesmo erro e logo no início do filme cada um parte para uma missão diferente e só se encontram de novo minutos antes de acabar o filme. Não há quase nenhum diálogo entre os dois. O relacionamento entre eles é muito importante nessa série e agora só resta o Episódio 3 para fazê-lo melhor, se der tempo.
Outro problema do filme, igual ao do Episódio 1, é a falta de um bom vilão. No primeiro filme tinhamos Darth Maul que aparecia muito pouco, tinha 2 linhas de diálogo, e só se mostrou como uma ameaça ao final ao enfrentar com garra dois cavaleiros jedi ao mesmo tempo. O cara era uma fera no duelo, mas infelizmente não tinha presença no filme.
Agora no Episódio 2 temos Jango Fett e Conde Dooku (no Brasil será Conde Dookan, segundo a Fox). Jango Fett tinha tudo para ser um personagem inesquecível, mas tem apenas duas cenas de destaque; a primeira é formidável onde ele luta com Obi-Wan e a segunda meio patética logo no final, mas não contar aqui. O personagem tem pouquíssimo desenvolvimento no filme e isso desaponta muito.
Nesse filme também somos apresentados a Bobba Fett, filho de Jango, que se tornará também um caçador de recompensas que capturará Solo em “O Império Contra Ataca” e terá uma morte imbecil em “O Retorno de Jedi”. Esse personagem é apenas um menino ainda no Episódio 2 e por enquanto só temos sua apresentação e origem; não esperem também nenhum desenvolvimento desse personagem no filme.
Conde Dooku, interpretado pelo formidável Christopher Lee, só aparece após a metade do filme e também não teve chance de desenvolver melhor seu personagem. Mas acreditem quem quiser, o cara é fera também com um sabre de luz na mão (tudo graças à magia dos efeitos especiais, lógico).
Por falar em sabre de luz, o “Ataque dos Clones” tem apenas uma breve, porém muito eficaz, cena de duelo com essas espadas. E para quem sempre teve curiosidade em saber porque Yoda é o mais poderoso dos Jedi na prática, ficará de queixo caído. Certamente é a melhor cena do filme.
Ao contrário dos duelos de sabre de luz no Episódio 1 onde Lucas optou por movimentos radicais com o estilo das artes marciais orientais, no Episódio 2 ele voltou ao estilo dos 3 filmes da trilogia original. Mas não se preocupem achando que os duelos perderam a emoção, pois a coreografia é ainda excelente e a velocidade sobre-humana nos movimentos é impressionante.
Vamos falar agora um pouco sobre os personagens.
Obi-Wan é a melhor coisa do filme. O cara é o Jedi, com domínio absoluto da força, enfrentando as situações com calma e sempre seguro de si. No primeiro filme Obi-Wan não nada fez além de ficar seguindo seu mestre por todos os cantos falando apenas “Yes, Master” (que desperdício para o personagem); apenas no final ele finalmente ganhou autonomia, enfrentou e venceu Darth Maul e contrariou Yoda para poder ensinar Anakin a ser um Jedi. Pelo menos agora no “Ataque nos Clones” o personagem ganhou o destaque que merece e rouba todas as cenas do filme em que aparece. Cada vez mais ele se parece com o velho Obi-Wan da primeiro trilogia, interpretado por Alec Guinness. Ewan McGregor agora pôde mostrar como é um excelente ator também. Por falar em atuação, ele também é o ator que melhor se sai nesse filme.
Quanto ao Anakin, qualquer ator que não fosse o péssimo Jake Lloyd do Episódio 1 já seria considerado um progresso, mas o novato Hayden Christensen fez um trabalho muito bom, principalmente nas cenas em que o personagem começa a trilhar pelo caminho do lado negro. Mas nas cenas de romance com Padme ele deixou muito a desejar no tocante à atuação.
Por falar em romance, certamente essas cenas são as piores do filme; muito mal escritas, com péssimos diálogos e péssimas atuações. Felizmente George Lucas as colocou em segundo plano, não comprometendo muito o filme.
Natalie Portman também melhorou muito em relação ao primeiro filme, deixando de lado aquela interpretação fria e sem graça alguma. A personagem agora é Senadora na República e participa mais nos acontecimentos do filme, principalmente nas alucinantes cenas de ação no final.
Muitos ficaram desapontados pelo fato de que Samuel L. Jackson, interpretando o personagem Mace Windu, mestre Jedi, ter aparecido apenas alguns minutos no Episódio 1. No Episódio 2 ele tem uma participação bem maior e participa nas cenas de ação. Esse cara também é fera com um sabre de luz na mão.
O fato de todos os personagens terem poderes sobre-humanos está começando a me perturbar nesses primeiros filmes da nova trilogia. Será que é tão difícil para o George Lucas criar personagens mais humanos e simples, e também mais carismáticos, como Luke, Leia, Han Solo e Lando ?
Atendendo às preces da totalidade dos fãs, George Lucas reduziu a participação de Jar Jar Binks para menos do que cinco minutos nesse filme. Mas num toque perverso, Jar Jar Binks é colocado em uma situação que ninguém acreditará quando assistir ao filme. O principal motivo da existência do personagem é revelada e todos os fãs o perceberão com horror. Parece que o próprio George Lucas passou a detestar Jar Jar também.
Infelizmente, na falta de Jar Jar, George Lucas colocou C3PO no papel de palhaço do filme. Todas as cenas em que ele aparece consiste em um humor tão fraco e infantil que certamente resultará na ira de muitos fãs.
Palpatine infelizmente teve uma participação muito reduzida nesse filme. Porém todas as cenas em que ele aparece são ótimas e mostram sua manipulação para dominar a República. Sua melhor cena é um breve diálogo a sós com Anakin, muito bem realizada e que mostra o que esta para vir nos planos de Palpatine.
Quanto aos efeitos especiais, “O Ataque dos Clones” também inova bem mais do que o Episódio 1. O Episódio 1 apenas pegou efeitos especiais que todo mundo já tinha visto e os colocou em excesso espalhados pelo filme inteiro. Não havia nada de novo naqueles efeitos. Excesso não é necessariamente qualidade e George Lucas percebeu isso ao perder a disputa do Oscar de efeitos para “The Matrix”.
Agora, no Episódio 2, Lucas não deixou barato e inseriu efeitos especiais de cair o queixo, principalmente nos últimos trinta minutos do filme. Uma cena que merece destaque é Obi-Wan perseguindo Jango Fett em sua nave através de asteróides. Impressionante ! Por falar nisso, nesse filme não há combates espaciais entre várias naves, marca registrada de todos os demais filmes da série. A única cena é essa da perseguição.
Como “O Ataque dos Clones” foi filmado inteiramente em uma câmera digital, fica bem fácil inserir os efeitos especiais e eles se mesclam melhor com o ambiente e com os atores. Esse o fator mais importante para o filme se destacar melhor quanto aos efeitos especiais.
Um outro grave defeito do Episódio 1 também continua nesse filme, que é o fato de que os confrontos sejam entre humanos (os bons) e os droids (os maus). No Episódio 1, toda cena de luta, salvo a com o Darth Maul, é contra aqueles robôs sem graça e que dificilmente representam alguma ameaça. Agora no Episódio 2 também a maioria das cenas de luta são contra esses malditos droids, somados à algumas criaturas selvagens. Isso é hipocrisia de George Lucas, achando que é imoral hoje em dia seres humanos se matando em combate. Até é, mas tenha santa paciência !!! Isso é um filme de Star Wars, e na trilogia original humanos atiravam entre si; os stormtroopers imperiais não eram robôs. E ainda um detalhe que poucos fãs devem ter percebido; quando George Lucas lançou aquelas edições especiais da trilogia original com cenas novas, ele cortou todas as cenas em que alguém aparece recebendo um tiro. Um personagem atira com sua arma e a vítima já aparece caindo no chão, não aparecendo o tiro acertando-o. Para quem tem as duas versões em casa é só comparar, principalmente na cena do original Guerra nas Estrelas onde Luke e Solo resgatam Leia e travam um combate com os stormtroopers na sala que tem as celas. É ou não hipocrisia? Agora vem também o Spielberg e na edição especial do E.T. ele apaga digitalmente todas as armas de fogo que apareciam no filme, substituindo-as por walk-talkies. Daqui a pouco a Disney vai querer apagar a cena que a mãe do Bambi morre no desenho e a Universal vai fazer Spartacus sobreviver no final do filme. Será que é correto apagar a memória dos filmes em prol de uma visão mais pacífica do mundo ? É correto apagar o passado ?
A trilha sonora de John Willians é certamente a mais fraca de toda a série. As músicas criadas especialmente para o filme não impressionam e até passam despercebidas. Os momentos que mais chamam a atenção são os pequenos trechos das músicas dos outros filmes que aparecem de vez em quando, como a Marcha Imperial e o tema de Solo e Leia, além de alguns do Episódio 1 também.
Concluindo, O Ataque dos Clones, mesmo com todos os seus defeitos, é uma grata surpresa. É um bom filme de ficção-científica, tem cenas fantásticas de ação e excelentes efeitos especiais. Só não esperem muito desse filme, pois uma alta antecipação pode prejudicar a diversão, que é justamente o que esse filme proporciona.
Episode 2 – Attack of the Clones estréia em 05 de julho no Brasil