O chefão de Jornada nas Estrelas, Rick Berman, voltou a comentar o atual estado do franchise em uma entrevista à revista britânica “Star Trek Monthly”, a primeira de uma série mensal, similar à que Berman faz com a revista do fã-clube oficial de Jornada nos EUA, a “Star Trek Communicator”.
Durante a conversa com o jornalista Ian Spelling, Berman não conta muito que os fãs já não saibam (até porque a entrevista tem mais de um mês de idade), mas confirma alguns detalhes importantes, como a aparição de Whoopi Goldberg (Guinan) em “Nêmese” e a não-aparição de Majel Barrett (Lwaxana Troi) no filme. Ele também revela a história por trás do polêmico tema de Enterprise, “Faith of the Heart”. Confira a tradução, na íntegra.
STM: Vamos começar com Enterprise. Quão surpreso ou não-surpreso você está de quão bem Enterprise foi nos EUA desde a estréia?
Rick Berman: Estou muito surpreso. É um prazer. Eu meio que sentia que teria uma resposta crítica positiva porque eu sentia que tínhamos feito um trabalho muito bom ao fazê-la e eu acho que é uma nova e fresca série de televisão com um elenco maravilhoso. Com relação à audiência, ela é ótima, mas se você medir contra a de Jornada nas Estrelas: A Nova Geração, essa é uma audiência que você nunca mais vai ver. A Nova Geração estava fazendo o tipo de audiência que o colocaria no top five hoje em dia, porque o planeta inteiro é diferente. Mas, por exemplo, em nossos índices preliminares em Nova York, chegamos em primeiro semana após semana com Enterprise, o que é bem impressionante, considerando que estamos na UPN. Então eu ando bem satisfeito.
STM: Na sua opinião, o que tem funcionado melhor na série?
Berman: Eu acho que os roteiros e o elenco. Tudo funciona bem. É preciso dúzias de pessoas para fazer algo como isso funcionar direito. Mas eu acho que conseguimos um elenco incrível que a audiência imediatamente abraçou. Brannon [Braga, co-produtor-executivo] e eu temos escrevido uma porção de episódios e temos feito de um jeito que é um pouco mais leve e um pouco mais aventureiro e um pouco mais direcionado aos personagens. Há muito menos tecnobaboseira. Mas isso é tudo parte da premissa, até certo ponto.
Acamos de começar a filmar um episódio agora em que Trip [Connor Trinneer] e Reed [Dominic Keating] estão em um dos shuttlepods e eles estão convencidos, erradamente convencidos, de que a Enterprise bateu e que toda a tripulação foi perdida, e porque eles não têm nenhum equipamento sensor e não têm rádios e muito pouco ar –é só uma questão de poucos dias antes que o tempo acabe. Então temos dois homens em um frio congelante. Para filmar isso, nós refrigeramos uma parte do set. Isso nos permitiu pegar o vapor saindo de suas bocas. Mas nós apenas temos dois homens numa nave auxiliar, pensando que só têm dois dias para viver e encontrando uma garrafa de bourbon. É uma história maravilhosa. É uma maravilhosa troca de ritmo e um bom episódio de união para um par de nossos personagens. É chamado “Shuttlepod One”.
STM: Onde você acha que é possível melhorar?
Berman: Oh, sempre tem espaço para melhorar. Encontrar melhores histórias. Encontrar melhores escritores. Servir nossos personagens de uma forma balanceada. Sempre teve uma piada na época da Nova Geração que tivemos uma temporada onde a cada dois episódios, um era do Data [Brent Spiner]. E então tivemos uma temporada em que Brent veio para mim dizendo, “Não tivemos um episódio enfocando meu personagem por seis meses”. Nunca é de propósito. Só funciona desse jeito. Se você olhar para a Jornada nas Estrelas original, Kirk, Spock e Magro têm uma porção gigante do que estava rolando.
Acho que fizemos um trabalho muito bom de balancear os personagens, mas sempre alguns recebem um pouco menos e você quer fazer seu melhor para desenvolver histórias para eles. Tivemos alguns episódios maravilhosos de Hoshi [Linda Park]. Fizemos duas grande histórias de Reed. Acabamos de filmar um episódio chamado “Dear Doctor”, que enfoca o dr. Phlox [John Billingsley] e uma médica humana. Então eu acho que as pessoas não reclamarão sobre o equilíbrio por muito tempo.
STM: Você pode nos dar uma idéia de que outros tipos de história estão vindo?
Berman: Estaremos visitando os Andorianos de novo. Vamos ter outro episódio Suliban. Eu já mencionei o episódio do shuttlepod e o episódio do dr. Phlox. Estamos escrevendo um episódio agora sobre um planeta bem comum que tem uma equipe de cientistas alienígenas trabalhando nele. Nosso pessoal desce e encontra umas coisas bem incomuns e assustadoras. Nos divertimos tentando fazer material fantasmagórico e assustador e estamos tentando continuar com isso.
STM: Como você fez com Voyager, você escreve um bom número dos primeiros episódios de Enterprise. Quão divertido foi descer e pôr as mãos na massa ao escrever para uma série de Jornada?
Berman: Brannon e eu escrevemos os roteiros de cinco episódios até agora e estamos trabalhando em um sexto. Isso tem sido satisfatório. Escrevemos cerca de um terço dos episódios e tivemos muito a fazer escrevendo e rescrevendo os outros dois terços. E eu preciso te dizer, estou me divertindo mais do que nunca. Tem sido ótimo. Brannon e eu trabalhamos juntos maravilhosamente e temos escrito rapidamente. E aparentemente, pelo retorno que temos recebido, as pessoas estão felizes com o que estamos dando a elas.
STM: A música de abertura da série, “Faith of the Heart”, cantada pelo britânico RUssell Watson, causou muita controvérsia entre os fãs. Algumas pessoas a amam e outras a odeiam. O que você pensa da situação, e de como você deicidiu escolher a música em vez de uma composição erudita?
Berman: Eu gosto da música. Eu aceito total responsabilidade pela música. Eu acho que a sequência de abertura precisava ser mudada. Fomos a uma companhia maravilhosa chamada Montgomery/Cobb e trabalhamos com eles por meses juntando as montagens que fazem o background da sequência de abertura. Em nosso esforço contínuo de fazer as coisas diferentemente e fazer de Enterprise uma série mais contemporânea, o pensamento de fazer uma música com um vocal era algo que eu pensei que seria bem legal.
Olhamos um monte de músicas diferentes. Fomos na direção de Lyle Lovett. Fomos na direção de Randy Newman. Finalmente, eu conheci a compositora da nossa canção, Diane Warren, e ela é uma incrível compositora que fez coisas maravilhosas. Ela concordou em escrever uma música para nós. Ela me ligou um dia e disse, “eu vou cantar algo para você”. E ela começou a cantar essa música. Era quase como se fosse exatamente o que estávamos procurando, mas acabou que era uma música que ela já havia escrito. Fizemos algumas mudanças menores e era perfeita para o que queríamos.
Então chegou a vez de procurar um cantor, e esse é aquele grande, longo processo. Diane gostava muito de Watson, que é uma grande estrela na Europa e especialmente no Reino Unido. Nós o encontramos e ouvimos algumas das versões pop que ele fez de coisas clássicas. Marcamos uma sessão de gravação, primeiro em Nova York, e então fizemos alguma mixagem final e outras coisas que ocorreram na Inglaterra.
STM: Vamos mudar para “Jornada nas Estrelas: Nêmese”. Onde estão as coisas em termos de produção do filme?
Berman: Estamos no dia cinco. Eu não poderia estar mais impressionado. Estivemos fazendo uma sequência de ação que acontece em um planeta alienígena. Eu não poderia estar mais satisfeito com nosso diretor, Stuart Baird. Ele tem feito um grande trabalho. Estamos basicamente filmando no deserto agora e todo o resto do filme será feito em estúdio na Paramount.
STM: Neste momento, que luz adicional você pode jogar sobre a história? Da última vez, você disse que seria uma grande história com Romulanos nela e que também envolveria clonagem.
Berman: Isso é verdade. Há Romulanos nela e clonagem nela. Há muitos Romulanos nela e também há Remanos nela, Remanos são do planeta irmão do dos Romulanos. E posso dizer de novo que há clonagem nela. Essa é uma parte importante da história.
STM: Você pode pelo menos responder a uma dúvida que gerou debate entre os fãs. Houve alguma alteração feita ao roteiro em razão dos eventos de 11 de setembro?
Berman: Nenhuma. Absolutamente nenhuma.
STM: Nós sabemos que Kate Mulgrew e Wil Wheaton irão aparecer em “Nêmese” como a almirante Janeway e Wesley Crusher, respectivamente. Como suas aparições se deram?
Berman: John Logan, que escreveu o roteiro, queria muito que Kate fizesse a almirante que íamos ter e Kate ficou feliz em fazê-la. Temos um casamento no filme e convidados no casamento incluem Wil Wheaton e Whoopi Goldberg.
STM: Alguém teve de torcer seu braço para trazer Wheaton de volta? Ele tem a impressão de que você não gosta dele.
Berman: Sabe, isso é tão engraçado, porque alguém mais me disse isso. Eu não imagino por que alguém pensaria isso. Eu gosto muito do Wil. Alguém mais, não da imprensa, me disse, “Wil está muito interessado em estar no filme, mas ouvimos que você não gosta dele”. Eu não posso imaginar de onde isso veio.
STM: Na verdade, veio do Wil. Ele disse que ele perdeu sua aprovação por causa do modo como ele saiu de A Nova Geração.
Berman: Isso não poderia estar mais longe da verdade.
STM: O casamento, como todos sabemos, é entre Deanna (Marina Sirtis) e Riker (Jonathan Frakes), então parece uma oportunidade ideal para Majel Barrett Roddenberry reprisar seu papel como Lwaxana. Ela estará de volta?
Berman: Não. Há um ponto da história que não quero revelar, mas há uma razão.
STM: Quem são seus principais astros convidados?
Berman: Nossa principal estrela é um jovem ator inglês chamado Tom Hardy [cujos créditos incluem o filme “Black Hawk Down” e a série aclamada “Band of Brothers”]. Ele certamente é o mais importante ator convidado. Há dois outros personagens que estão perto de serem escalados, mas não estão travados ainda, então vou me segurar de falar sobre eles.
STM: Vamos trocar de assunto de novo. Você viu a edição americana de Jornada nas Estrelas do “The Weakest Link”?
Berman: Sim, eu vi. Mas, infelizmente, LeVar [Burton] já tinha me dito que ele tinha ganho. Isso tirou toda a empolgação de mim. Mostrou, se nada mais, que temos um pessoal realmente esperto que atuou para nós.
STM: Finalmente, há algo mais acontecendo no universo de Jornada que deveríamos saber antes de deixar você partir?
Berman: Vejamos… Sempre têm algumas pautas em discussão, mas nada realmente sólido no momento, de que eu possa falar. Talvez haja algo que eu possa contar no mês que vem. Agora, estamos numa programação de filmagem de 14 semanas em um filme bem grande e estamos na primeira temporada de uma nova maravilhosa série de televisão. E já é bastante.