ESPECIAL: Esperando Enterprise

Nesta nota vamos analisar um pouco do estilo de Brannon Braga, co-criador, produtor-executivo e roteirista-chefe da nova série de Jornada nas Estrelas, Enteprise. Acredito ser este um tópico importante, pois poderá fornecer algumas pistas sobre o que esperar dos roteiros da próxima série. Aqui estarei me referindo aos anos de Braga na Nova Geração e em uma nota posterior tratarei dos seus tempos em Voyager.

Braga “entrou” no universo de Jornada com um estagiário, na quarta temporada da Nova Geração. O primeiro trabalho pelo qual recebeu crédito foi “Reunion”, um episódio com uma infinidade de créditos de diferentes autores, em que ele ajudou a dar uma “polida” nas versões finais do roteiro. Ele foi contratado oficialmente apenas na quinta temporada, sendo seu primeiro crédito, já como membro da equipe, “The Game”. Ele galgou posições dentro da equipe até o cargo de co-produtor na temporada final da série.

O estilo de Braga se baseia fundamentalmente na escolha de um “high-concept”, que serve de base para o episódio, geralmente é uma idéia que, de uma forma ou de outra, está “prendendo” a atenção do roteirista no momento. Temos vários exemplos aqui, tais como: a “erupção de anti-tempo” de “All Good Things …” ; o “loop de casualidade” de “Cause and Effect” ; os “saltos quânticos entre universos paralelos” de “Parallels” (Scott Bakula tinha que acabar em uma série escrita por Braga mesmo) ; o “sonho de Data” em “BirthRight I” ; o “sonho de Data, Parte II” em “Phantasms” ; o literal “um punhado de Datas” em “A Fistful Of Datas” ; a “Enterpise dando a luz” em “Emergence” etc.

Escolhido o “High-Concept”, ele normalmente utiliza os personagens que se adequam melhor a história, mas normalmente o episódio nunca é REALMENTE sobre um destes personagens (mesmo quando o nome deles está no título do episódio, como em “A Fistful Of Datas”). Se ele não tiver um personagem que se adeque ao que ele pretende realizar, ele pode mesmo modificar a caracterização de um personagem, usando-o LITERALMENTE para mover a trama do ponto A para o Ponto B. Também, muitas vezes, o mapeamento dos personagens em seus roteiros é indiferente, um dado episódio poderia funcionar da mesma forma se fosse “carregado” por outro personagem.

O episódios escritos por Braga geralmente envolvem um flerte com o estranho e com o bizarro, normalmente associados a existência de Paradoxos (temporais), distorções da realidade, transtornos mentais, paranóias, etc. É do roteirista também, um certo gosto pelo macabro. Braga têm um “bom ouvido” para diálogos, ainda que ele os use essencialmente em termos estéticos (Troi comendo sorvete em “The Game” é um claro exemplo desta faceta de Braga). Ele não tem muita experiência em escrever drama orientada a personagem, ele não o faz (como regra) e (aparentemente) não têm muito interesse em fazê-lo. Também tem pouca, ou nenhuma, experiência em serialização, arcos de história e real desenvolvimento de personagens. Ele também não tem (aparentemente) muito interesse em temas com relevância social ou de cunho político.

Em uma nota bastante pessoal, eu acho que Braga estaria muito mais “em casa” em uma série como “The Outer Limits”(“Quinta Dimensão”, aqui no Brasil) do que em Jornada nas Estrelas. Infelizmente ele é o único veterano (da equipe de roteiristas) que “sobrou” dos tempos da Nova Geração (além de Berman é claro) e será a figura-chave da criação e desenvolvimento da nova série.

OS NÚMEROS DE BRAGA NA NOVA GERACÃO:

Seguem abaixo os episódios que Braga teve QUALQUER TIPO de colaboração creditada em sua escrita. Os episódios estão apresentadas em ordem decrescente de qualidade.

Para cada episódio temos: a temporada de origem, a colocação do episódio (variando de #1 a #178) no ranking, percentual de aproveitamente do episódio (100% corresponde ao primeiro colocado e 0% corresponde ao último colocado no ranking) e se o episódio foi escrito integralmente (SOLO) por Braga ou não.

(Foram usados valores de referência do site de votação popular: SOS. Foram usados dados referentes apenas a Nova Geração e as conclusões foram tiradas estritamente no contexto daquela série.)

“All Good Things … ” (T7 – #3 & #4 – 96.8%),
“Cause and Effect” (T5 – #9 – 88.7% – SOLO),
“Parallels” (T7 – #14 – 85.5% – SOLO),
“Reunion” (T4 – #17 – 83.9%),
“Timescape” (T6 – #29 – 80.6% – SOLO),
“Frame Of Mind” (T6 – #33 – 79.0% – SOLO),
“BirthRight I” (T6 – #65 – 69.4% – SOLO),

“Phantasms” (T7 – #72 – 66.1% – SOLO),
“A fistful Of Datas” (T6 – #78 – 64.5%),
“Schisms” (T6 – #81 – 64.5%),
“PowerPlay” (T5 – #89 – 63%),
“Indentity Crisis” (T4 #104 – 56.5%),
“Realm Of Fear” (T6 – #107 – 54.8% – SOLO),
“Genesis” (T7 – #137 – 45.1% – SOLO),
“Emergence” (T7 – #144 – 41.9%),
“Eye Of The Beholder” (T7 – #149 – 40%),
“The Game” (T5 – #153 – 38.7%),
“Sub Rosa” (T7 – #169 – 30.6% – SOLO),
“Aquiel” (T6 – #170 – 29%) e
“Imaginary Friend” (T5 – #176 – 16.1%).

É, da experiência do autor, que um episódio para ser julgado “sólido”, deve ter um aproveitamento de (aproximadamente) 70%, ou superior. Episódios com aproveitamento de (aproximadamente) 80%, ou superior, são considerados “grandes sucessos”.

Sendo assim os trabalhos de maior destaque de Braga na Nova Geração são: “All Good Things …”, “Cause and Effect”, “Parallels”, “Reunion”, “Timescape” e “Frame Of Mind” (este último, com ajudinha). Contando “All Good Things…” duas vezes, Braga trabalhou em 7 “grandes sucessos” da série.

Levando em conta os episódio “sólidos” da série, Braga trabalhou em 8 deles: “All Good Things …”, “Cause and Effect”, “Parallels”, “Reunion”, “Timescape”, “Frame Of Mind” e “BirthRight I” (este último, com ajudinha).

(NOTA: Assistam a estes 21 episódios que, com certeza, contém as bases para vários episódios futuros de Enterprise.)