O site Dark Horizons traz uma nova revisão do roteiro de “Jornada nas Estrelas – Nêmesis”, o décimo filme da saga, que está atualmente em fase de pré-produção.
O autor, auto-denominado “capitão Kronos”, formou sua opinião a partir de uma versão do roteiro datada de 20 de junho, escrita pelo roteirista John Logan, com base em história criada por Logan, Rick Berman e Brent Spiner (Data). Dos três, quem mais apanha do revisor é Berman, classificado como o “grande vilão” de Jornada nas Estrelas.
Confira o que Kronos tem a dizer sobre Jornada X, incluindo diversos spoilers sobre a história, que deve começar a ser filmada em outubro e deve chegar aos cinemas americanos no primeiro semestre de 2002.
“Jornada nas Estrelas – Nêmesis”
Há um plano agora traçado para destruir de uma vez por todas algo que um monte de gente ainda valoriza. Eu li o que está no horizonte e ainda estou chocado.
Houve muitos vilões na história de Jornada nas Estrelas, de Khan a Kruge a Chang –mas nenhum deles perpetuou mais destruição à Federação do que um homem: Rick Berman. A falência deste franchise, que uma vez foi a visão orgulhosa do saudoso Gene Roddenberry, realmente está aos pés de Berman.
Sua falta de habilidade combinada com sua necessidade insaciável de constantemente enriquecer seus bolsos ao criar bastardos com o nome “Jornada nas Estrelas” nos deixou com duas séries deixando a desejar, uma terceira a caminho, assim como três dos piores episódios já produzidos em uma grande série de filmes de cinema desde que “Loucademia de Polícia” deixou seus rastros nas telas de cinema.
Enquanto Rick Berman estiver envolvido em qualquer produto de Jornada, é garantido que irá ter muito pouca relação com a série original que aglomerou inúmeros fãs e entrou para o panteon das grandes lendas do show business.
Paradoxalmente, sempre que um novo projeto de Jornada é anunciado há um vasto otimismo. Invocamos discussões sobre a maldição “ímpar versus par”, tentando manter uma mente aberta com nossas valentes esperanças de que a próxima produção ira restarurar Jornada nas Estrelas à glória de outrora. Preciso admitir que estava empolgado com a idéia de que John Logan, um roteirista indicado para um Oscar e sabido fã de Jornada, tinha vindo a bordo para roteirizar o próximo filme da Nova Geração. Afinal, aqui está um escritor de verdade –não um membro de segunda linha do time de Rick Berman. Meu otimismo foi fortalecido com o anúncio de Stuart Baird como diretor. Novamente, esse não era um piloto de episódios da brigada de Berman, mas um homem que dirigiu filmes “de verdade”, em contraposição a episódios da telinha glorificados, incluindo um que eu apreciei bastante: “Executive Decision”.
Baird, ao contrário de seus predecessores, parece realmente “ter uma vida” fora deste gênero enlouquedoramente singular. Eu pensei que talvez ele pudesse abordar esse “empreendimento” [trocadilho com “enterprise”] com objetividade –e simplesmente fazer um filme decente.
Essa era a imagem mental que eu tinha quando sentei para ler a versão de 20 de junho de “Jornada nas Estrelas – Nêmesis”, a mais nova aventura da telona para a tripulação da Nova Geração, também projetada para ser o seu “canto do cisne”. Quando eu terminei o roteiro, estava sem palavras –não só é o pior de todos os lamentáveis filmes da Nova Geração, como também um dos mais fracos roteiros de filme que eu já li na vida.
Os veículos especializados informam que “Nêmesis” está ainda para receber a luz verde da Paramount. Isso precisa significar que ainda há alguma vida inteligente nos corredores do estúdio afinal.
A capa oferece o diagnóstico principal do problema: história de John Logan, Rick Berman & Brent Spiner.
Enquanto Berman continuar a influenciar um projeto de Jornada em todos os aspectos, suas chances para sucesso são tão boas quanto as de Adam Sandler ser contratado para interpretar James Bond.
Livre de escopo, grandeza, grandes eventos, perigos ou quaisquer dos pré-requisitos que separam um filme de um segmento de televisão, o roteiro pare uma versão suave de um episódio duplo da Nova Geração. Ainda pior, ele muitas vezes lembra “fan fiction”, com sua ênfase exagerada em dois personagens populares, desprezando todos os outros, e com um texto que ocasionalmente descreve as coisas como “cool”. Uma descrição para uma sequência em que William Riker está descendo um corredor é literalmente: “É como uma cena do ‘Alien'”.
Um título mais apropriado para esse roteiro poderia ser “Jornada nas Estrelas – Pastiche”, já que ele toma emprestado tão liberalmente detalhes de quase todas as viagens anteriores pela telona, incluindo alguns dos piores momentos das já mencionadas produções de Berman.
O intuito é recriar o cenário de “A Ira de Khan”, lamentavelmente tentando inventar um vilão que divide uma história passada com o capitão, junto com um querido tripulante fazendo o sacrifício definitivo no final, mas o resultado final não é merecedor de comparações com “Khan”. Na verdade, não é comparável nem ao último filme dos “Rugrats”.
A história abre numa câmara do Senado Romulano, lembrando-nos de cenas no começo de Jornada IV, assim como toda a politicagem Klingon vista ao longo de Jornada VI.
Em vez do dispositivo “Genesis” do II, III e IV, desta vez a arma ameaçadora em jogo é um raio estranho que pode destruir toda a matéria orgânica em seu caminho. O modo é descrito no roteiro, como uma lâmpada de flash que pode matar.
A seguir, a história muda para o Alaska, para o mesmo tipo de trivialidades forçadas e pouco inspiradas que forneceu instruções para a tripulação da Nova Geração tanto em “Generations” como no horrível “Insurreição”. Desta vez, a ocasião é o casamento pendente de Will “Número Um” Riker e Deanna “Betazóide” Troi. Para o registro, há um grande desenvolvimento de personagem no fato de que Riker voltou a deixar sua barba crescer. Na mistura está a usual crise da meia-idade do capitão e a melancolia que já vimos tantas vezes antes na Série Clássica e na Nova Geração, com pedaços de comédia pouco bem-vindos.
Como Brent Spiner divide o crédito pela história, ele mostra grande humildade ao ter o personagem de Data cantando a canção “Blue Skies”. No papel, soa com o peso de auto-indulgência. (Pelo menos Riker chega com seu trombone, o que se mostra uma pequena concessão a Jonathan Frakes, após terem vetado sua direção desta vez, sem dúvida pelo fracasso na direão de “Insurreição”, um negócio direto para o vídeo que de algum modo chegou aos cinemas.)
Worf reclama de ter estado bêbado. A dra. Beverly Crusher meramente reclama, e Geordi La Forge anda por lá sem o visor, que inicialmente deu a seu personagem uma necessária distinção.
Picard e Data apreciam uma discussão relativamente insignificante sobre a passagem do tempo e o significado da vida. Picard diz que o casamento de Riker e Troi o fez questionar suas escolhas pessoais, devotando sua existência inteira à Frota Estelar, não se casando e não tendo filhos.
Picard já cruzou o tema muitas vezes antes, até reclamando até chorar em “Generations”, ou em “Insurreição”. Já que Picard continua dizendo que é incapaz de ter filhos, é seguro afirmar que ele deve ser ou impotente ou estéril. Talvez os dois.
Claro, os bons momentos são sempre interrompidos no primeiro rolo de um filme da Nova Geração com a rude intrusão de uma “crise” inesperada. Neste caso, é “uma incomum assinatura eletromagnética do sistema Kolaris”, que põe a alegria em suspenso.
Picard e companhia viajam para o planeta não-mapeado Kolarus III, onde o conveniente oxigênio existe em abundância e ninguém se sente desorientado, já que ele é topograficamente do mesmo tipo que a paisagem do Vale da Morte que vimos literalmente em todo filme de Jornada nas Estrelas, assim como em “Stargate”, “Galaxy Quest” e “Perdidos no Espaço”.
E por falar no último…
Picard, Data e Worf então vão à superfície no equivalente do século 24 a um jipe militar”. Mostrando grande originalidade, o roteiro descreve o veículo como “uma versão da Frota Estelar do jipe da velha série de TV ‘Rat Patrol'”, significando que ele pode pular dunas e levar a uma vã tentativa de produzir algum nível de excitação pelo movimento. Há tão poucas referências a outros filmes e séries de TV nas descrições que eu juraria que esse roteiro foi escrito por alguém cujos créditos mais importantes seriam ter entrevistado os membros do elenco que ainda estão vivos de “Terra de Gigantes” para a “Starlog”, assim como servir refrigerantes em convenções de ficção científica. Espalhados pela superfície do planeta estão os componentes de um robô. Quando montado, ele cria uma duplicata do Data. Diferente de Lore, esse andróide é menos inteligente e programado, e ganha o nome de “B-9”.
Pessoalmente, eu acho que esse novo irmão do Data deveria ser chamado “Sybot”, em homenagem a Jornada V. Como prêmio por estar perdida por sete temporadas, a capitã Kathryn Janeway foi promovida a almirante, de volta à Terra. Ela ganhou uma ponta em uma tela de computador e oferece exposição a Picard com “E” maiúsculo. Janeway liga para dizer que há um novo Praetor em Romulus que está falando de paz, e, convenientemente, como sempre, a Enterprise é a nave mais perto disponível para checar a situação.
Esse novo líder não se chama Gorkon, mas Shinzon. Intermitentemente, somos expostos a Data tutorando e confraternizando com o novo “B-9”. Um exame de Beverly Crusher sobre B-9 rouba a frase do Dr. McCoy sobre o Spock ressuscitado de Jornada III, cuja “mente é um vazio”, dizendo exatamente as mesmas palavras. (Bem, eu acho que é porque os dois são médicos.)
Idêntica à cena em que a nave de Kirk encontra a nave de Gorkon, em Jornada VI, é a em que a Enterprise encontra uma ave de guerra Romulana, a chamada Scimitar, que se descamufla e leva a um diálogo quase idêntico ao ocorrido na ponte no sexto filme de Jornada. Estou tão feliz que Berman acredite em reciclagem. Afinal, é bom para o planeta… só não é neste filme.
Picard, acompanhado por alguns atores de apoio que precisam de diálogos para qualificar seus benefícios junto ao sindicato, se transporta para a Scimitar, onde encontra Shinzon, quem nós descobrimos estar sofrendo de uma estranha degeneração genética que me lembrou da mesma coisa que atormentava o personagem de F. Murray Abraham em “Insurreição”. Seu rosto está literalmente se quebrando. Também de forma semelhante ao personagem, Shinzon é afligido pelo diálogo ruim. Picard reage em choque quando observa Shinzon. Você sabe, toque musical, ele reconhece algo sobre ele mesmo.
Fica então claro, com alguma lógica que você sempre encontra em um roteiro não escrito por Edward D. Wood, que Shinzon é na verdade um clone de Picard! Beverlu postula que ele foi criado 25 anos atrás, talvez usando um folículo de cabelo de Jean-Luc –como se ele tivesse muitos para deixar para trás em primeiro lugar.
Similarmente ao roteirista, Troi é incapaz de ter qualquer insight sobre Shinzon e suas motivações, já que “ele foi treinado para resistir a telepatia”. Então, neste ponto da história nós temos Picard, após questionar sua própria existência, face a face com um clone Romulano, assim como Data, enfrentando um doppelganger similar.
Uau, que tal essa ironia? Na verdade, um nome mais apropriado para “B-9” teria sido “História-B”. em uma cena horrivelmente plagiada de um episódio da Nova Geração, Shinzon entra na mente de Deanna Troi e a estupra mentalmente. O resultado final é que seu noive, Riker, está muito, muito incomodado.
É então revelado que “B-9” é uma criação Romulana, projetada nãoapenas para atrair a Enterprise para a vizinhança próxima, mas para espionar e acumular informações sobre a nave –como se, após todos esses anos, haja alguma coisa nova para aprender sobre uma nave da Frota, além de novas entradas no cardápio. Shinzon, que sofre de um processo de rápido envelhecimento que já vimos tanto em Jornada III quanto em “Insurreição”, precisa uma amostra do sangue de Picard, com a esperança de que isso irá ajudar a combater sua condição decadente.
Talvez Shinzon devesse ter ganho o nome da primeira ovelha clonada? Picard descobre a nova arma Romulana, e imagina que, se fosse usada para destruir toda a vida na Terra, “então isso iria seriamente enfraquecer a Federação”.
Bem, estou feliz em saber que nós terrestres importamos tanto no grande escopo das coisas. Há literamente nada em risco neste roteiro, e o interesse continua a se esvair após cada página é virada.
Picard e Data estão ambos encarando cópias de si mesmos, e Picard precisa batalhar com sue clone, enquanto Data precisa converter seu contraparte em “bonzinho”. “Nêmesis” parece muito com aqueles livrinhos da Nova Geração que costumavam aparecer nas prateleiras todo mês. A maioria das pessoas os compraria só pelas capas, mas o roteiro nem tem uma ilustração decente.
“Jornada nas Estrelas – Nêmesis” é muito sobre clonagem, já que Berman e seus colaboradores copiaram literalmente todas as cenas de jornadas anteriores, mas, como clones… há falhas críticas.
Eles conseguiram estragar com o que eles queriam imitar.
Este fato se aplica ao terceiro ato inteiro, que tem as naves de Picard e Shinzon batalhando em uma nebulosa, nesse caso chamada de “Fissura Bassen”.
Muito como Chekov, que teve um ouvido violado em Jornada II e atirou um torpedo de fóton em retaliação, Deanna Troi consegue dar o troco por sua intrusão mental. Riker entra em algum combate corpo a corpo com personagens secundários Romulanos na nave, e recria uma sequência de chute na cabeça do primeiro oficial de Shinzon que é um roubo direto da morte de Kruge em Jornada III.
Desta vez, o malfeitor cai por um túnel escuro depois de Riker dizer a ele: “Não se preocupe, o inferno é escuro”. Muito mau que ele não atirou seu trombone para mostrar o quão durão ele REALMENTE pode ser. Geordi, Worf e Beverly permanecem inutilizados durante essa aventura. Se a produção chegar a começar neste roteiro, eles todos irão aproveitar vários dias de folga, enquanto podem ficar em casa e surfar pelos canais por episódios em que seus personagens realmente foram importantes. Para o final, igual a Khan ativando o torpedo Genesis, o Shinzon derrotado a bordo de sua nave dizimada dispara seu aparelho de destruição orgânica.
Eu não vou incomodá-los com os detalhes das cenas, mas basta dizer que Picard se transporta para a Scimitar e acaba com Shinzon. Entretanto, ele é incapaz de se transportar de volta à Enterprise, enquanto o tempo começa a se esgotar no contador da arma. Neste tempinho, Data salva Picard, levando-o um aparelho miniatura de teleporte, projetado só para emergências, e também sacrifica sua própria vida cibernética ao ficar para trás. Após essa “trágica” perda… a tripulação da Enterprise se reune na ponte, derrama lágrimas e tem um serviço funerário para seu querido, saudoso camarada Spock — errr, quer dizer, Data.
Picard chega a erguer um copo e dizer “Aos amigos ausentes”, sem se preocupar em atribuir a citação ao capitão Kirk, de Jornada III, que também foi morto pelo terrível Soran, assim como por Rick Berman, em “Generations”.
Mas espere –assim como Spock transferiu seu “katra” para McCoy durante Jornada II, de forma que sua consciência inteira Vulcana pudesse ser devolvida a seu cérebro vazio em Jornada III, Data convenientemente downloadou toda, repito, TODA, a sua programação e personalidade em B-9. Similar ao filme do terceiro Jornada nas Estrelas, quando Spock reconhece Kirk e diz “Seu nome é Jim”, B-9 é mostrado sentando nos aposentos de Data e timidamente começando a cantar “Blue Skies”. Em uma tomada da Enterprise se afastando, ouvimos B-9 cantando com confiança crescente.
Pelo menos nos filmes originais de Jornada, você tinha de esperar um outro filme inteiro pelo retorno de Spock. “Jornada nas Estrelas – Nêmesis” falha em todos os níveis, não apenas como um filme de Jornada, mas como um filme em geral.
O controverso título “Attack of the Clones” poderia ser mais apropriado para essa orgia chocante de plágio desavergonhado que apenas rebaixa o que todo fã e jornalista que se preocupa com Jornada nas Estrelas tem dito vezes seguidas: as forças que dirigem este franchise estão sem idéias e precisam ser substituídas.
Rick Berman clonou um cansado velho vilão em Shinzon que precisa da mesma coisa que Jornada precisa tão desesperadamente para se manter viva: sangue novo. “Nêmesis” é até pior que “Generations” e “Insurreição”. Saia da frente, sr. Berman… “porque as necessidades de muitos superam as necessidades de poucos, ou de um”. Nós, os fãs de Jornada, somos muitos, e você é um.