ESPECIAL: Esperando Enterprise

QUE AUDIÊNCIA PODEMOS ESPERAR PARA ENTERPRISE ?

Existe um grupo de Trekkers (um sub-grupo dos “Trekkers-Die-Hard”, os famosos “fãs de carteirinha”) que sempre vai assistir Jornada, por pior que seja (e mesmo alguns dentre estes vão assistir, só para ter mais munição para falar mal). É esta audiência residual mínima que me diz que teremos (a menos de uma tragédia inesperada e completa) mais uma série com sete temporadas. De forma a garantir, que “TODOS” os “Trekkers-Die-Hard” ao menos confiram o piloto, uma estratégia está sendo aparentemente adotada, alguns pontos são: não dar furos óbvios de continuidade (o dever de casa dos produtores está sendo feito, até onde posso perceber), valorizar um senso de nostalgia da Série Original de Jornada, valorizar um senso de renovação e exploração (utilizando imagens da Nasa, por exemplo), promover uma cuidadosa e gradual campanha publicitária e adotar um excelente relações públicas, na pessoa de Scott Bakula.

A segunda parte da estratégia de Berman e Cia. é atrair um “novo público”. Todas as atitudes e imagens reveladas pelos produtores apontam nesta direção, um visual mais “industrial”, típico de “filmes de ação”. O público de tais filmes é o alvo primário de Enterprise. Esta série não necessita de nenhuma bagagem de informação anterior para ser compreendida e apreciada, ela é essencialmente o “primeiro capítulo do livro”, parece feita especialmente para atrair e conquistar novos fãs.

Em termos quantitativos podemos esperar cerca de 10 a 12 pontos de audiência para o piloto, caindo para cerca de seis pontos nos primeiros episódios regulares. Dai para frente vai depender do desenvolvimento da série e da performance da UPN, que promete melhorar nesta temporada (que, para falar a verdade, não têm como piorar). Estes “seis pontos” coincidem com a audiência média de “Dark Angel” na temporada passada, se estes números foram aceitáveis para a Fox, que renovou a série de James Cameron, que dirá para a coitada da UPN.

(A prova, de que os produtores consideram o piloto crucial, é que eles estão colocando TODAS as suas cartas na mesa para atrair e principalmente segurar a audiência. Por exemplo, os Sulibans, Silik e o “enigmático ser do futuro” poderiam ser apresentados de forma mais gradual ao longo da série mas são colocados diretamente no piloto.)

COMO A PREMISSA DE ENTERPRISE PODE ALIENAR OS FÃS MAIS ANTIGOS DO FRANCHISE ?

Perguntas abundam dos fãs mais antigos e este “antigo fã do Franchise”, que vos escreve, responde:

P: “Se esta foi a primeira Enterprise, por que ela e seus tripulantes não são referenciados nas séries seguintes ?”

R: Esta é uma “suspensão de descrença” embutida na própria premissa da série (uma NADA PEQUENA devo admitir), algo necessário para o funcionamento da história (mas ATENÇÃO, uma citação de Archer e Cia. no “Filme X” vai ficar um bocado esquisita, que os produtores deixem as coisas como estão, ao menos por um tempo) .

P: “Isto [INSIRA AQUI ALGUM ELEMENTO DA SÉRIE] não está moderno demais para o séculko XXII ? ”

R: Acredito que qualquer tipo de moda é cíclica, inclusive a do projeto de naves e de sua tecnologia (não estou vendo abusos aqui, pelo contrário, vejo até bastante coerência e acredito que o visual retrô-futurista adotado esteja no caminho certo, adorei a gravata do Almirante).

P: “Como posso aceitar que “estes caras” foram os primeiros a ir as estrelas e não a tripulação de Kirk ? ”

R: A tripulação original vai ser sempre a original, neste caso a cronologia da vida real toma precedência (eu acho um pouco infantil implicar com este ponto, mas não tenho dúvidas de que muitos fãs vão se sentir assim ao longo da série).

Já faz tempo que desisti de esperar a série de Jornada que EU gostaria de assistir. Se são episódios isolados de ação e aventura que os produtores pretendem oferecer, espero assistir e julgar a série nestes termos. Espero que os envolvidos não joguem a premissa da série pela janela e a transformem em algo ainda mais reciclado e bizarro do que foi a Voyager. Berman e Cia. cometeram todos os erros POSSÍVEIS em Voyager, é hora de começar a acertar a mão.

Não teremos a Fundação da Federação (acho que a série vai ficar um bocado distante de tramas políticas e segundo o próprio Berman a fundação da Federação está bêm longe) e duvido também da apresentação da guerra com os Romulanos.

O único conceito que me desagradou COMPLETAMENTE foi o do “vilão do futuro” (que me parece, muito mais introduzido como um “dispositivo de segurança”, que pode ser usado para perverter a ordem da série se necessário, do que um elemento de trama legítimo com bastante planejamento por trás). Isto aparentemente denota uma falta de sinceridade dos produtores (com suas atitudes) ou mesmo uma falta de confiança destes em relação a premissa escolhida. Mais detalhes sobre este polêmico aspecto (e suas ramificações) na próxima parte desta série, “Esperando Enterprise”.

(EM TEMPO: Eu realmente preferiria que a questão da “testa Kilngon” fosse deixada de lado, isto pode atrapalhar mais do que ajudar. É so fingir que eles sempre foram assim e ponto final. Isto é tentar explicar algo que não têm explicação, foi uma necessidade da produção da série original.)

MAIS ALGUNS PONTOS:

NOVAS DIRETRIZES DE BERMAN: Berman disse recentemente, em diferentes ocasiões, que a nova série terá uma “atitude mais livre” quanto aos seguintes aspectos: sexo, linguagem e trilha musical. Eu não espero grandes mudanças em nenhum destes aspectos. Dificilmente teremos cenas de sexo (apesar de eu achar excelentes e de muito bom gosto) como em “NYPD:BLUE”, talvez um pouco mais “de pele a mostra”, nada mais que isto. Talvez os diálogos se tornem um pouco mais casuais mas não acredito que a série vá embarcar na onda de “Farscape” e “Andromeda”, neste quesito. Cabe salientar que este tipo de linguagem (informal e com gírias adaptadas ou inventadas) só funciona em tais séries por que a ATITUDE GLOBAL da série é assim, caótica e (essencialmente) sem cadeia de comando. Tradicionalmente em Jornada, cancões em geral e estilos musicais como Rock e Jazz são utilizados apenas quando produzidos em cena, nunca como trilha sonora e eu acho que isto não vai mudar. O que pode mudar são as diretrizes das trilhas sonoras. Uma parcela do Fandom (na qual não me incluo) considera que, da quinta temporada da Nova Geração para frente, a trilha dos episódios aderiu a moda das “músicas de elevador”. Estes mesmos fãs culpam a saída do compositor Ron Jones (que trabalhou por último durante a quarta temporada da Nova Geração) e a Rick Berman por este estilo ter sido adotado nas trilhas sonoras de Jornada. De qualquer forma, seria interessante ouvir o que Ron Jones teria a dizer sobre este assunto.

(Para minha surpresa já temos alguns elementos no melhor estilo “Farscape”: T’Pol incomodada por inalar os Feromônios humanos, a fascinação da Vulcana pelos rituais de acasalamento humanos e a reprodução assexuada de Phlox. Por outro lado temos que T’Pol e Phlox serão fascinados pelos humanos, um velho clichê de Jornada.)

TECNOLOGIA: O tamanho, os armamentos (as torres de artilharia foram uma boa pedida) e as “blindagens” (cujo CONCEITO me lembra as da série “Galactica”) da SS Enterprise, parecem bastante interessantes. A forma de utilização das naves auxiliares e a câmara de descontaminação também (esta uma maneira não artificial de “mostrar a pele do pessoal”). Eu pessoalmente ficaria MUITO MAIS FELIZ se não tivessemos NENHUM TIPO de transporte, replicador e tradutor universal. A mera existência de tais dispositivos é um convite para o Braga brincar de “encrenca tecnológica da semana”. Esta tripulação NÃO pode inventar TODA a tecnologia do futuro: Feisers (manuais e de nave), Torpedos Fotônicos, Defletores, Transportes (completos), Replicadores (completos), Holodecks, Tradutores Universais, Raios Tratores, campos de força (de isolamento, médicos, …), Tricorders etc. Eles podem inventar algumas destas tecnologias mas não todas (mesmo versões rudimentares), seria ridículo se eles o fizessem. Não só pelo absurda da concentração de tais descobertas em único grupo de pessoas, mas principalmente pelo fato de que isto sabotaria a premissa “prequel”.

(A afirmação de que “comunicações de longa distância só são possíveis em velocidade de dobra”, é um total mistério pra mim. Parece ser concebida para ampliar ainda mais a “distância” entre a Enterprise e o seu QG, mas a “pseudo-ciência” envolvida, me escapa completamente. Um desafio maior é a ausência das estações retransmissoras da Federação. Ou seja, a menos que os Vulcanos e outras raças dêem um ajuda com as comunicações, esta nave vai TER que ficar muito SOZINHA.)

(Engraçado, muitas das restrições de operação a que Voyager DEVERIA se submeter são também verdadeiras para Enterprise. Espero que agora Berman e Cia. tenham aprendido a lição.)

(Para enaltecer o grande avanço da dobra 5, é dito que 10.000 mundos habitados agora estão em um raio de uma ano de viagem. Isto DEFINITIVAMENTE não cola! Este cálculo parece ser feito pela mesma calculadora que sempre “confirmava” que a Voyager ainda estava no Quadrante Delta, apesar de todos os “saltos” dados durante a viagem.)

(Os Vulcanos recusaram a dividir a sua tecnologia com a humanidade. Algumas perguntas interessantes: Por que esta atitude por parte dos Vulcanos ? Existem outros mundos com este mesmo tipo de relação com os Vulcanos ? Se o pai de Archer já morreu, será que os Vulcanos tiveram algo a ver com isto ?)

PERSONAGENS: Sobre os personagens eu só posso dizer que a falta de originalidade (para não falar do descaramento) da instauração de um novo “Grande-Trio” me incomoda um bocado. A desconfiança de Archer com relação aos Vulcanos e T’Pol pode ir a algum lugar se FOR PRA VALER. Se, ao final do piloto, eles se tornarem amigos-confidentes, a única relação potencialmente interessante no papel vai para o ralo. Espero que os atores envolvidos sejam capazes de oferecer performances com várias texturas e sub-texto, pois seus personagens de uma forma ou de outra já existem. Os demais relacionamentos sugeridos não me agradam. A característica de Mayweather de dormir em gravidade zero é um pouco tola, poderiam usar melhor o orçamento da série neste caso (além do que, QUALQUER COISA que me lembre de “Melora”, não pode ser bom). Sato ainda parece a mais interessante do bando, porém eu temo que ela possa virar um “personagem ferramenta” ou mesmo perder grande parte de sua função se um Tradutor Universal, totalmente funcional, for inventado ao longo da série (pensem Sato mas se lembrem de Kes).

(Por algum motivo eu sempre associei o nome de Phlox com a cara do Neelix. Aparentemente Westmore também, e ele mandou uma mistura de Cardassiano e Talaxiano para a maquiagem do bom Doutor. NÃO CONVENCEU ! Os Sulibans também não agradaram muito, mas falta vê-los em ação com suas “habilidades especiais”.)