ESPECIAL: Jornada dá lucro no Cinema ?

Quando o franchise de Jornada nas Estrelas no cinema chega a um momento decisivo, no que pode ser o último filme específico da tripulação da Nova Geração na “tela grande”, vamos retornar um pouco no tempo é examinar, de uma maneira informal, alguns números dos filmes anteriores de Jornada. Chamo a análise de “informal” por que estarei fixando 3 números específicos para comparação, sendo que somente um me interessa realmente (o “lucro percentual em território Americano”). Os valores citados são os melhores que consegui até o momento, existem variações mas o lucro percentual em todos os conjuntos de dados que testei (em um total de cinco) foram quase que idênticos.

De qualquer forma o leitor é aconselhado a encarar a presente análise com algumas reservas, pois devido a característica de Jornada de ser um franchise com uma infinidade de licenças de “Merchandising” baseadas em CADA UM dos seus produtos (isto sem contar com os produtos derivados de produtos), o quadro completo só pode ser conhecido com acesso ao conjunto de todas as informações relacionadas. Algo que só os executivos do alto escalão da Paramount têm acesso.

Em uma próxima oportunidade estarei utilizando algum “valor de referência” para comparar “os números” de cada um dos filmes de Jornada. O ganhador do Oscar de Efeitos Visuais do ano seguinte ao que o filme foi lançado parece uma boa pedida.

(Aos curiosos querendo os números atualizados, com a inflação americana acumulada, posso garantir que os 4 primeiros filmes pertencem a um patamar definitivamente mais alto, em termos de receita, se levarmos este fator em consideração.)

(Infelizmente, não obtive nenhum conjunto de dados confiável de público.)

Vamos agora tentar “interpretar” este PARTICULAR conjunto de dados (e comentar um pouco os filmes no processo):

1. 07/12/1979 – “Star Trek: The Motion Picture”

ORÇAMENTO (EM MILHÕES DE DÓLARES DA ÉPOCA): 35

RECEITA AMERICANA (EM MILHÕES DE DÓLARES DA ÉPOCA): 89

LUCRO AMERICANO: 154.3%

Por ser o “piloto da série de filme de Jornada no cinema” e por ter tido uma infinidade de problemas de produção que se arrastaram durante anos e só se encerraram praticamente na véspera da estréia, este filme custou uma absurda quantidade de dinheiro e permanece como o único filme de Jornada que pode ser considerado uma “super-produção” e o único que foi filmado realmente como um filme de cinema. Sua receita foi bastante grande, garantindo a continuação da série.

Resta esperar (e torcer) que a versão atualizada pelo próprio Robert Wise e com efeitos visuais refeitos, seja menos sonolenta e tediosa do que a original.

(Este foi o único filme de cinema que Roddenberry teve ativa participação criativa. Após este ele foi relegado a função de consultor.)

2. 04/06/1982 – “Star Trek II: The Wrath of Khan”

ORÇAMENTO (EM MILHÕES DE DÓLARES DA ÉPOCA): 11

RECEITA AMERICANA (EM MILHÕES DE DÓLARES DA ÉPOCA): 78

LUCRO AMERICANO: 609.1%

Meyer & Bennett conseguiram fazer, com o orçamento de “cadarço de sapato” disponível, um verdadeiro milagre em um eterno sucesso entre os fãs. É claro que os cenários são extremamente pobres, o interior de Regula I parece uma liquidação de osciloscópios antigos e o exterior é (obviamente) uma das estações do ‘The Motion Picture” virada de cabeça pra baixo (existem inúmeros outros exemplos). Talvez o maior problema seja a fotografia do filme que ficou a cargo da divisão de TV da Paramount, para cortar custos (os fotogramas parecem estar com fuligem, e acredito que nem uma remasterização possa dar jeito nisto). Os efeitos visuais eram ótimos pra época (além de servirem muito bem a história), mas o resto … .

Um melhor resultado dramático seria obtido caso este fosse o último filme da série ou o último com Spock (com Saavik tomando o seu lugar). As pistas NADA SUTIS deixadas, indicando um possível retorno do Vulcano, enfraquecem o final do filme.

(Eu gostaria que a cena que mostra Saavik como uma Romulana não tivesse sido cortada.)

3. 01/06/1984 – “Star Trek III: The Search for Spock”

ORÇAMENTO (EM MILHÕES DE DÓLARES DA ÉPOCA): 17

RECEITA AMERICANA (EM MILHÕES DE DÓLARES DA ÉPOCA): 76

LUCRO AMERICANO: 347.1%

O orçamento aumentou e isto se vê na tela em certas partes (mas não muitas), apesar da fotografia continuar muito ruim. Outro substantivo sucesso comercial.

Meyer faz muito falta no roteiro (especialmente nos diálogos) e na direção (aqui no máximo um trabalho medíocre de Nimoy). A “trama de tarefa” (em que se baseia o filme), um “análogo” de “The Menagerie”, é bastante cansativa e a necessidade de usar toda sorte de “mágica com DNA” e “backup espiritual” para trazer Spock de volta a vida, é NO MÍNIMO um barateamento do filme anterior.

(Toda a sub-trama envolvendo a Excelsior é simplesmente ESTÚPIDA, dando a entender que os únicos oficiais da Frota Estelar com real senso de camaradagem e honra são os da Enterprise.)

4. 26/11/1986 – “Star Trek IV: The Voyage Home”

ORÇAMENTO (EM MILHÕES DE DÓLARES DA ÉPOCA): 25

RECEITA AMERICANA (EM MILHÕES DE DÓLARES DA ÉPOCA): 109

LUCRO AMERICANO: 336.0%

Meyer de volta ao menos no roteiro é um ponto positivo e deveria ter dirigido também (Nimoy se sai melhor, do que no filme anterior, mas ainda estava meio “verde”). A fotografia melhora a olhos vistos e uma viagem no tempo consegue acomodar as demandas orçamentárias do filme. Foi o último GRANDE SUCESSO COMERCIAL do Franchise no cinema. É (claramente) o filme do franchise com maior penetração no público leigo. Sua atitude, meio “sessão da tarde”, é aparentemente irresistível.

(Marcou o primeiro, e talvez maior, pico de popularidade do franchise.)

(Os filmes II, III e IV marcam o primeiro “arco de história” da história do franchise.)

(Reza a lenda que foi Roddenberry que convenceu a todos sobre a validade do conceito da “Enterprise-A”, aparentemente Bennett queria colocar a tripulação a bordo da “Excelsior”, a sua criação.)

(Gostaria que Saavik tivesse permanecido em Vulcano, grávida de Spock.)

5. 09/06/1989 – “Star Trek V: The Final Frontier”

ORÇAMENTO (EM MILHÕES DE DÓLARES DA ÉPOCA): 32

RECEITA AMERICANA (EM MILHÕES DE DÓLARES DA ÉPOCA): 52

LUCRO AMERICANO: 62.5%

Alguém deveria ser responsabilizado judicialmente por isto. Além do dinheiro necessário para repor alguns cenários modificados para servir a Nova Geração, não vejo como eles puderam gastar tanto. Os valores de produção são todos deploráveis. Shatner dirigindo ele mesmo é um perigo (e o cara ainda queria mas dinheiro para a infame “sequência das gárgulas”, no que seria o final do filme). Ele e Bennett ficaram tomando sem controle na produção deste aqui. É o tipo de programa que eu tenho vergonha de assistir com outra pessoa, é tão ruim assim. Para alguns este filme “captura” o melhor do relacionamento do “grande trio”. Bem, não pra este fã. Ver atores, conservando em volta da fogueira, com “tiradas” do nível de “feijões e uísque, mas que mistura explosiva” é constrangedor. E pensar que têm gente reclamando do “old fart” do Picard.

(Este filme foi considerada apócrifo por Roddenberry e o é oficialmente pela Paramount.)

(Meyer deve ter rido muito desta desgraça.)

6. 06/12/1991 – “Star Trek VI: The Undiscovered Country”

ORÇAMENTO (EM MILHÕES DE DÓLARES DA ÉPOCA): 29

RECEITA AMERICANA (EM MILHÕES DE DÓLARES DA ÉPOCA): 75

LUCRO AMERICANO: 158.6%

Algo se perdeu na fórmula do sucesso e uma despedida da tripulação original, coincidindo com os 25 anos da série, seria uma ótima oportunidade para “reacender” o interesse pelos filmes de Jornada. Este é o segmento mais “dark” da série original e contém partes consideradas apócrifas pelo próprio Roddenberry (o ponto crucial para Gene foi a conspiração entre oficiais da Frota e os Klingons, culminando com um oficial da Frota tentando matar o presidente da própria Federação).

Este filme nunca teria funcionado sem Meyer, escrevendo e dirigindo. Sua direção aqui, deixa o trabalho dos cinco filmes anteriores literalmente na poeira. A cena final é extremamente tocante com Kirk trocando a sua fala para a de Picard, literalmente “passando a tocha” entre as gerações.

(Marcou o segundo pico da popularidade do franchise como um todo.)

(Eu preferiria Saavik, Romulana e com um filho de Spock, no lugar de Valeris. Tornaria o filme mais intenso (especialmente para Spock) e real. Com a introdução de uma “DE FATO SAAVIK”, ficou óbvio quem era o(a) traidor(a) desde o momento do assassinato do Chanceler Gorkon.)

7. 18/11/1994 – “Star Trek: Generations”

ORÇAMENTO (EM MILHÕES DE DÓLARES DA ÉPOCA): 35

RECEITA AMERICANA (EM MILHÕES DE DÓLARES DA ÉPOCA): 73

LUCRO AMERICANO: 108.6%

De forma a alavancar uma série de filmes com a tripulação da Nova Geração no cinema, o chamariz da morte de Kirk foi utilizado (também foi utilizado o chamariz de uma “passagem de bastão entre as gerações”, já que o final do “Filme VI” aparentemente foi julgado sutil demais pelos produtores).

Com um roteiro bastante hermético para o público leigo, fracas atuações por todo lado (Stewart e Shatner incluídos), uma montagem patética, INTERMINÁVEIS “brigas de rua” entre McDowell e os dois capitães e a falta de resolução dos temas pessoais de Kirk e Picard (que eu acho que nem foram bem estabelecidos) só depõem contra este MUITO fraco filme.

As duas histórias do filme são tão “entortadas” para colidirem que chega a ser engraçado e as “propriedades mágicas” do “Nexus” são de tal natureza que acabam por tornar o filme completamente vazio dramaticamente. O roteiro não flui, foi feito aos pedaços com uma lista de tarefas do lado: “Temos que destruir a Enterprise”, “Temos que fazer Kirk encontrar Picard” e “Temos que matar Kirk”.

(Este filme foi feito as pressas e isto é aparente na tela.)

(Marcou a estréia – PARA MEU DESESPERO – de Stewart como “herói de ação”.)

(Marcou o terceiro pico da popularidade do franchise como um todo.)

8. 22/11/1996 – “Star Trek: First Contact”

ORÇAMENTO (EM MILHÕES DE DÓLARES DA ÉPOCA): 41

RECEITA AMERICANA (EM MILHÕES DE DÓLARES DA ÉPOCA): 92

LUCRO AMERICANO: 124.4%

Este filme consegue ser um filme de ação convencional contando com um núcleo central 100% Trekker, que trata da desconstrução do mito de Cochrane (uma bela homenagem a Roddenberry) e também do primeiro contato com os Vulcanos (estabelecendo, muito apropriadamente, Humanos e Vulcanos como raças irmãs). Só tenho problemas com o começo do filme, após a missão da Esfera Borg ser identificada, ele toma um andamento confiante e extremamente envolvente, sem igual dentre os filmes do Franchise.

(O episódio final de Voyager, “Endgame”, tornou o começo deste filme ainda mais estúpido, com o infame “Transwarp Hub”.)

Frakes se saiu muito bem em mais este “episódio duplo de TV com esteróides” e o Cromwell teve uma atuação inesquecível.

9. 11/12/1998 – “Star Trek: Insurrection”

ORÇAMENTO (EM MILHÕES DE DÓLARES DA ÉPOCA): 58

RECEITA AMERICANA (EM MILHÕES DE DÓLARES DA ÉPOCA): 70

LUCRO AMERICANO: 20.7%

Este filme conseguiu ter uma performance pior que a do “Final Frontier” o que é algo “notável”. Seus maiores problemas são o seu pequeno escopo, um roteiro RIDICULAMENTE rescrito (e rescrito e rescrito) e a falta de foco: se era uma comédia leve ou um “algo mais ” sobre o “lado negro” da Federação. Acabou uma bobagem completa.

O filme é uma “ego-trip” completa de Stewart (um dos fatores que levou ao interminável número de rescritas do roteiro). É hilário como Frakes deixa pistas para que a audiência não leve muito a sério o que está acontecendo, desde a “mixagem” entre os “pips” recém-retirados de Picard e os dentes dos vilões até o infame “joystick” do final do filme.

10. ??/??/2002 – “Star Trek: Nemesis” (?)

Para o próximo filme, Berman traz a bordo um roteirista nomeado ao Oscar e um diretor nomeado ao Oscar (nomeado como montador). Dois profissionais da indústria do cinema para dar um ar mais bem acabado a produção. A popularidade de Stewart devido ao seu papel em “X-Men” promete ajudar também (sem contar que o filme é par). O tom será definitivamente sombrio e intenso, com ares de encerramento e despedida para a série. Fica a dúvida sobre a data de estréia, o próximo ano está cheio de pesos pesados.

(Eu estou especulando que mesmo que este novo filme tenha um retorno financeiro similar ao de “First Contact” ele será o último com Berman no controle.)

(Aposto que Jerry Goldsmith comporá a trilha sonora e a “Foundation” fará os efeitos visuais.)

(AGRADECIMENTOS a Alberto Paiva Barreto por estimular a presente discussão no Fórum do Trek Brasilis. Valeu Cumpádi!)