Daniel Sasaki
Editor de Voyager
No último dia 12, em uma das noites mais frias e ventosas do ano, o elenco de Voyager se reuniu pela última vez para comemorar e dizer adeus aos sete anos de trabalho difícil, porém gratificante, na série. O pitoresco W Hotel, uma curiosa combinação de rigidez arquitetônica com hábil e moderna sofisticação, serviu de palco para acomodar cerca de 500 convidados, que puderam acompanhar o evento desde o bar interno e pista de dança até a área externa da piscina.
Embora o clima da festa fosse de alegria e agitação, havia uma pitada de tristeza por conta do fim de mais uma grande e duradoura saga da televisão. Encerrar um trabalho de tantos anos e separar uma família que esteve reunida durante toda a jornada certamente foi difícil, mas a sensação de partir para novos projetos também despertou um forte otimismo. Afinal, sete anos é um longo período de tempo para se fazer qualquer coisa.
Assim que chegaram ao tapete vermelho, os atores cederam seu tempo ao batalhão de repórteres e fotógrafos, que se surpreenderam com a presença de convidados como John de Lancie (Q), Susanna Thompson (Rainha Borg), Scarlett Pomers (Naomi Wildman) e Richard Herd (almirante Paris), enfim, pessoas que marcaram presença como personagens secundários no seriado. Além deles, atenderam ao evento profissionais de séries anteriores de Jornada, como Brent Spiner (Data, em A Nova Geração) e Armin Shimerman (Quark) e Chase Masterson (Leeta), ambos da Deep Space Nine.
Não se pode deixar de mencionar que Majel Barrett Roddenberry (Lwaxana Troi/voz do computador), a viúva do criador de Jornada nas Estrelas, também esteve presente, na companhia de Rick Berman e Brannon Braga, forças produtiva e criativa de Voyager, respectivamente. No entanto, muitos sentiram falta de alguns rostos conhecidos na festa de fechamento. Michael Piller e Jeri Taylor, co-criadores da série, assim como Jennifer Lien (Kes) não compareceram à comemoração.
“Já passamos da parte das lágrimas, da parte emocional. Hoje será divertido. Estaremos celebrando com muitos de nossos fãs.” Foi assim que Jeri Ryan (Seven of Nine) descreveu o evento ocorrido em Westwood, Califórnia. O que se segue é a transcrição dos comentários que o elenco fez a uma repórter do site oficial de Jornada, que por sinal já disponibilizou as entrevistas em vídeo, na seção ‘Voyager Finale’.
Os Comentários
“Estou muito mais feliz com esse desfecho do que qualquer coisa que eu teria inventado”, disse Kate Mulgrew (capitã Kathryn Janeway), quando perguntada sobre suas colocações anteriores de como gostaria de ver o fim do show. “Não há dúvidas sobre isso. A não ser que as pessoas estejam totalmente enrijecidas com relação a Jornada, cada telespectador ficará satisfeito com o episódio final. Não consigo vê-lo de outra maneira.” Como todos os demais atores, Kate se sente estranha com a finalização de Voyager.
“Sete anos é muito tempo (…) Acho que vivenciei uma coisa tão estranha, sob circunstâncias tão extraordinárias. Eu me dou conta de que estou fechando um capítulo que revisarei e reavaliarei por muitos anos. Estive consumada em minha devoção a Janeway. Eu amo essa companhia, amo essa equipe. Foi um trabalho árduo, mas gratificante. Eu entendo os rigores de um bom trabalho agora de um modo como não entendia antes. Por isso, estou pronta. Estou pronta para seguir em frente, e tenho certeza de que isso será muito difícil.”
Mulgrew também explicou porque acha que Voyager é tão atraente para os fãs. “É uma família perdida sob circunstâncias extraordinárias. É sobre coragem. É sobre esperança. É sobre um gesto épico, tanto da imaginação como da ciência. É sobre humanidade. E é sobre o futuro. E isso é muito atraente para um certo contingente. E eles são, eu percebi nesse sete últimos anos, muito inteligentes.”
Rick Berman, o atual chefão do franchise, ressaltou que “a coisa que torna Voyager tão excepcional é o fato de ter uma mulher no leme. Isso é o que a torna única. Nós temos uma personagem em Kathryn Janeway, interpretada com tanta graça por Kate Mulgrew, que tem as qualidades femininas de criação que precisa ter e ao mesmo tempo é uma líder forte e dedicada.”
Majel Barrett, a “Primeira Dama de Jornada” falou sobre o legado do seu falecido marido. “Acho que ele estaria absolutamente encantado. Ele criou algo, mas sabia que as coisas têm de mudar e ele as teria mudado também, e acho que foram na direção que ele tomaria. Então, acho que ele estaria muito contente nesse ponto.”
Uma das figuras mais proeminentes no franchise atualmente é Brannon Braga, que falou com entusiasmo sobre o fim do seriado. “É ótimo. É um episódio muito bom… muito emocionante.” Ele também comentou sobre a lealdade dos fãs. “Uma das coisas que descobri ao trabalhar por 11 anos no franchise é que as pessoas passam Jornada para seus filhos –eles querem passar Jornada para os filhos porque achavam legal quando estavam crescendo… e algumas crianças a rejeitam e dizem ‘Pai, seu nerd’, mas algumas aderiram… e há uma nova série para cada geração.”
Quem pareceu bastante aliviado com a conclusão de Voyager foi Robert Beltran (Chakotay). Ele estava muito ansioso para partir para outros projetos, se possível, mais curtos. “Espero que não dure tanto tempo, e então vou tirar umas férias, e talvez faça uma peça. Eu sinto muita falta do teatro.”
Rindo, Jeri Ryan (Seven of Nine) descreveu os colegas como “psicopatas”, retomando as colocações de todos os atores sobre o ambiente no set de flmagens. Ela também contou uma história interessante, sobre seu primeiro contato com Jornada nas Estrelas. “Rick Berman, o criador da série, um dia antes de eu conhecer a rede de TV, me deu a primeira indicação sobre isso. Ele disse que eu estava em um trem cargueiro em movimento e que não teria idéia da velocidade até estar a bordo. E essa ainda é a metáfora mais apta que já ouvi para essa experiência, e tem sido uma loucura.”
Robert Picardo (Doutor), sempre hilário, na tela ou na vida real, gracejou. “Eu devo dinheiro a todos eles. Eu devo aos outros membros do elenco, todos os oito, altas, significativas quantidades de dinheiro, e francamente estou feliz por estar me afastando deles.” Picardo também deixou escapar algo importante do episódio final: se seu personagem finalmente receberá um nome, ou não. Traduzindo para o português, seu comentário perderia totalmente o sentido, mas basta dizer que podemos esperar por novidades sobre o assunto.
Já, Robert Duncan McNeill (Tom Paris) falou rapidamente sobre como seu personagem mudou ao longo dos anos. “Eu acho que ele mudou, provavelmente ele mudou muito”, disse. “Eu ia dizer que mudou mais do que qualquer outro personagem, porque realmente mudou dramaticamente nos sete anos. Ele veio como um rebelde solitário e deixou de ser o cara mau da primeira temporada, tornando-se um modelo e casando-se e ele está para ter –para ser pai. Ele mudou dramaticamente. Foi ótimo. Todo ano ele pareceu crescer e mudar muito.”
“Ele está para se tornar pai, eu gostaria de ver o que isso é para ele”, continuou, falando sobre o que ainda gostaria de ver o personagem desenvolver. “Você sabe, com o show acabando e Tom e B’Elanna tendo um bebê, eu acho que o público vai morrer de vontade de saber, e eu morreria de vontade de saber…” Nesse momento, o ator olhou para a câmera quando deu-se conta do que havia dito e explicou, “Eu não, você sabe, eu disse que ela vai estar tendo um bebê, eu não disse se sim ou não. Eu acho que ela está –ela está grávida, então significa que ela terá um bebê, certo? É Jornada, nunca se sabe. Eu adoraria vê-lo como pai, adoraria ver o que isso faria a ele, adoraria explorar isso.”
Para finalizar, McNeill fez uma piada sobre o que aprendeu com Tom Paris. “Aprendi a não ultrapassar a dobra 10; você se transformará num lagarto. É uma coisa que aprendi, e todos deveriam saber disso.” Dizendo isso, ele fazia uma referência ao episódio “Threshold” do segundo ano da série, que será exibido dentro de poucas semanas no canal USA brasileiro.
Para Roxann Dawson, sua personagem, B’Elanna Torres, era uma adolescente que se transformou em mulher nos últimos sete anos. “O que eu acho interessante é que mesmo com o final, nenhum dos nossos personagens está completamente resolvido. Ainda há espaço para crescer, há lugar para a imaginação mesmo depois disso. Há tanto, mas seria difícil dizer sem revelar o desfecho e eu jurei segredo.”
Ethan Phillips (Neelix) chegou a especificar o que gostaria de ter aprofundado no seu personagem. “Mais de sua sexualidade provavelmente, de outros modos, e também, gostaria de tê-lo visto mais em batalha. Apesar de ter tido uma boa amostra disso, eu acho. Estou bastante feliz com o que me deram. Menos era mais para Neelix, ele era como tempero, você sabe.”
“Eu sentirei falta de trabalhar com as pessoas com quem trabalhei durante tanto tempo –o elenco e equipe”, disse Tim Russ (Tuvok). “Acho que passei mais tempo no estúdio do que em casa e, realmente, sentirei falta deles. Nos divertimos muito, demos muita risada. Eu não sentirei falta dos telefonemas às cinco horas da madrugada, isso não será um problema, mas sim, acho que também sentirei falta disso. E tivemos momentos muito especiais.”
Garrett Wang (Harry Kim) teve um bom motivo para celebrar o fim do seriado. “Estou feliz porque não terei mais que vestir aquele traje espacial. Ele sempre estica nos lugares errados.” Mas o ator confessa que gostaria de levar a roupa em questão consigo. “Eles não me deixam levar! Está guardada e trancada, sem uso! Queria tê-la levado; o eBay pagaria muito por ela”.
Aqueles que pensam que o elenco de Voyager sumirá do mapa com o término da série estão muito enganados. Alguns atores já têm projetos encaminhados. McNeill começa a filmar uma produção cinematográfica em poucos dias, enquanto Garrett Wang revela que está no processo de pesquisa e criação de um filme envolvendo a Segunda Guerra. Tim Russ e Ethan Phillips estarão voltando para os palcos. O primeiro fará uma peça em Austin, Texas, por três semanas. Já, o outro estará em “Side Man”, uma apresentação sobre músicos de jazz. Roxann Dawson disse que seu futuro imediato dependerá da greve que ameaça estourar nos próximos meses, mas que pretende passar um tempo com os filhos.
A Conclusão
Voyager marcou sua presença no franchise, conquistou sua própria legião de fãs e sobreviverá para sempre em diversas formas; estará em ‘syndication’, livros, revistas em quadrinhos, jogos de computador. Para os atores envolvidos, as memórias e o tempo que passaram juntos nunca serão esquecidos; pelo contrário, permanecerão guardados no lugar mais sagrado dos seus corações.
A Festa de Despedida de Voyager foi uma festa especial para pessoas especiais. Durante essas sete temporadas, diretores, produtores e equipe de apoio insistiram em destacar que o elenco do seriado se integrou de forma tão genuína, que o ambiente de trabalho se transformava em encontro de grandes amigos. Mas a festa foi mais do que uma celebração. Ela trouxe emoções à flor da pele e desencadeou uma doce amargura pelo fim de uma era.