SPECIAL REPORT: CIC some e Paramount vem ao Brasil

Fernando Penteriche
Salvador Nogueira
especial para o Trek Brasilis

No meio deste ano acaba a CIC Vídeo. Responsável pelos lançamentos dos filmes da Paramount e da Universal desde 1987, a “joint-venture” chega ao fim. A notícia foi dada na última sexta-feira pelo siteMenu Interativo, especializado em informações sobre o mundo dos DVDs.

Segundo a matéria, depois de muitos anos no comando da CIC Vídeo seu diretor principal, Marcos Rosset, acertou sua saída da empresa e assumiu a direção geral da Buena Vista Home Video, que distribui no Brasil os filmes da Walt Disney, Hollywood Pictures e Touchstone Pictures.

A saída do diretor se deu em um momento em que o mercado de vídeo no Brasil está passando por grandes transformações, graças ao advento do DVD, uma mídia mais avançada e com um preço relativamente baixo, se bem que as distribuidoras, acreditando no potencial do mercado, já começam a articular aumentos de preços e novas políticas para lançamentos, como no caso da Fox e agora da Flashstar.

Com o final da CIC, a Universal e a Paramount passarão a distribuir seus filmes por conta própria. Segundo fontes, a Universal vai entrar no mercado brasileiro ainda neste primeiro semestre, e além de distribuir seu catálogo estará distribuindo também os filmes da Dreamworks.

A Paramount, que é o que interessa aos trekkers, já decidiu que a partir de junho deste ano começa a lançar seus filmes por aqui como Paramount Home Entertainment. Acontecendo isso, a CIC deixa de existir.

 

A Paramount é o único dos grandes estúdios de Hollywood que ainda não entrou no mercado de DVD brasileiro. Foi cogitado ao final de 2000 que ela entraria com um pacote de estréia em janeiro. Esse pacote traria apenas filmes sem expressão, como “K-911”, “Coração de Dragão – Um Novo Começo” e “Beethoven 3”.

Esses filmes acabaram sendo lançados, mas pelo selo da Universal. Algumas lojas nem receberam o material, de tão precaria que foi a iniciativa. A empresa está prometendo que lançará nesse ano 100 títulos em DVD, e claro que esperamos ver alguma coisa de Jornada nas Estrelas no meio.

CIC e Jornada: relação complicada

Divulgar fortemente Jornada nas Estrelas com bons lançamentos nunca foi o forte da CIC. A empresa lançou os 9 filmes de Jornada para o cinema em vídeo. Mas episódios das séries de TV em VHS, algo tão comum nos Estados Unidos e Europa, jamais foram prioridade da empresa. É verdade que alguma coisa ela lançou, mas bem pouco se comparado com suas filiais na Europa, por exemplo.

Em 1988, com o início da Nova Geração (1987), a primeira temporada foi lançada em VHS apenas para locação, levando o público do videocassete (algo novo na época) a crer que teríamos muito mais vindo por aí.

Alguns anos depois, vieram lançamentos quase fantasmas, como algumas fitas com episódios da Série Clássica e, aproveitando o embalo do sexto filme de Jornada nas Estrelas, foi lançado o episódio “Unification”, da Nova Geração, para locação. O lançamento de um episódio do quinto ano da série seria motivo de festa para os fãs que só tinham o primeiro ano disponível, se não fosse praticamente impossível encontrar a fita nas locadoras.

Em 1993, a CIC supreendeu os trekkers com o lançamento do episódio-piloto de Deep Space Nine, “Emissary”, para locação. Ainda sobre DS9, em 1996 o episódio inicial da 4º temporada “The Way of The Warrior”, considerado por muitos como um “segundo episódio-piloto” da série, também foi disponibilizado pela empresa. O intervalo entre a exibição do episódio nos EUA e seu posterior lançamento em vídeo por aqui foi bem curto, fazendo novamente os fãs acreditarem que dias melhores viriam. De quebra o documentário “Memórias”, de William Shatner, também foi lançado para locação.

A CIC disponibilizou todos os filmes de cinema de Jornada para venda direta ao consumidor com preços bem aceitáveis. Com essa política de sell-thru muitos puderam enfim ter a coleção completa dos filmes de Jornada, em VHS, na sua casa. A partir de 1996, uma coleção de episódios duplos também começou a ser lançada, mas sem nenhuma pericionidade.

Os fãs, sedentos pelos episódios inéditos, adoraram os lançamentos de uma coleção de episódios duplos, com “The Best of Both Worlds” (com “Q Who” acompanhando), “Unification” (desta vez com a inclusão do episódio “Sarek”) e “Redemption”. As fitas foram lançadas com grande intervalo umas das outras, e “Redemption” foi a última. Boatos davam conta que o episódio-duplo do 6º ano da Nova Geração, “Chain of Command” também seria lançado em um futuro próximo, mas nada aconteceu.

A CIC também lançou em sell-thru uma fita com “Caretaker”, episódio-piloto da série Voyager. Esse foi o último VHS de Jornada que a CIC lançou no mercado brasileiro, seja para venda direta ou locação.

Com a entrada da Paramount por aqui, o sonho de vermos nas lojas os DVDs dos filmes de cinema de Jornada e da Série Clássica crescem bastante, e é muito provável de que isso realmente aconteça. Seria ótimo, ao invés de ter de importar os discos de Jornada nessa época de dólar nas alturas, encontrá-los para venda, legendados em português, em um hipermercado mais próximo. Quem sabe?

Novas perspectivas

Um dos que aposta em um futuro melhor para Jornada nas Estrelas no mercado de homevideo é Paulo Maffia, ex-editor-chefe da revista Sci-Fi News e atual responsável pela reformulação do site Heróis, da Abril Jovem.

“A Paramount decidiu entrar no mercado sozinha e promete lançar 100 filmes até o fim do ano. Eles não tem catálogo para sustentar esse ritmo de lançamentos se não apelarem para produtos de televisão”, disse ao Trek Brasilis.

A atitude do estúdio americano realmente é corajosa: a Fox, quando entrou no mercado de DVDs, comprou os direitos da MGM, o que lhe rende bons frutos com a série de filmes de James Bond. A Universal só resolveu encarar a parada quando negociou o lançamento dos filmes da Dreamworks. A Columbia chegou ao mercado lançando os produtos de seu selo duplo (Columbia/Tristar) e com direito a alguns filmes da Universal. A única empresa a entrar realmente sozinha no mercado foi a Warner, cujo vasto catálogo justifica a atitude.

Já a Paramount não apresenta o mesmo currículo. O estúdio foi um dos últimos a entrar no mercado de DVDs americano e ainda não tem um catálogo tão vasto quanto as outras empresas. Por outro lado, a promessa de lançar 100 discos no Brasil até o fim do ano exigiria lançamentos de quase 20 discos por mês –coisa que pouca gente anda fazendo.

Se os planos do estúdio que produz Jornada nas Estrelas forem adiante, a aposta é seguramente brigar pelo mercado brasileiro de DVDs. Segundo Maffia, isso corresponde ao terceiro maior mercado do mundo, atrás apenas de EUA e Japão.

Lançamentos quase garantidos são os filmes do franchise. Resta saber se o material televisivo –as séries– chegarão às mãos dos consumidores brasileiros. No exterior, a Paramount está adotando duas políticas diferentes a respeito.

Na Área 1, que engloba EUA e Canadá, o estúdio começou a lançar, desde 1999, discos com episódios da Série Clássica. Cada DVD vinha com dois episódios. A coleção está acompanhando a ordem de produção da série, e mais da metade dos episódios já foi lançada.

Na Europa (Área 2), a Paramount estava negligente –nem todos os filmes havia lançado. Entretanto, os novos planos da empresa anunciados recentemente dão conta de que o estúdio quer lançar as séries em pacotes de temporadas completas –a começar por Voyager.

A idéia é ter todas as séries devidamente representadas no mercado europeu até 2003. Na Área 1, já há movimentação para o lançamento da Nova Geração em formato digital, mas nada foi definido em termos de forma de lançamento.

Paulo Maffia aposta em ainda outra estratégia para o mercado brasileiro. Ele acredita no lançamento de discos especiais, reunindo os episódios mais aclamados pelo público, a exemplo do que já é feito em VHS na Europa e nos EUA.

Diante das circunstâncias, só nos resta esperar e ver o que a Paramount nos reserva para o segundo semestre. Uma coisa é certa: com certeza há mais esperança agora do que quando dependíamos da CIC, uma empresa que nunca conseguiu acertar a mão nos lançamentos de Jornada.