MANCHETE
DO EPISÓDIO
Doutor alucina e questiona existência
enquanto organismo vivo e
consciente
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Sinopse:
Data Estelar: 48892.1.
O médico holográfico é automaticamente ativado devido a uma condição
de alerta vermelho. Segundo o computador, a tripulação teria
evacuado a Voyager após um ataque Kazon.
Pouco
depois, o Doutor descobre que a informação é falsa quando Torres
o procura para atender a capitã Janeway, que estava ferida na
ponte. Uma tecnologia do sistema holográfico permite que o Doutor
acesse outras partes da nave, como a ponte, o Mess Hall etc.
Algum tempo depois, o médico não acredita que o que vê é real,
pois ele se machuca e sangra e seu tricorder diz que ele é a única
forma de vida na Voyager.
Um holograma da engenharia chamado Reginald Barclay aparece e diz
que o Doutor é na verdade o dr. Louis Zimmerman, um programador de
hologramas, que ficou preso num holodeck no quadrante Alfa.
Ele
diz que uma inundação de radiação no holodeck irá matá-lo, e
que não há meio de sair dali, a não ser destruindo a Voyager para
terminar a simulação. O Doutor passa a ficar cada vez mais
perturbado pela dúvida de sua real identidade, quando Chakotay
aparece dizendo que ele é de fato o médico da Voyager e Barclay
estaria mentindo
Ao final, descobre-se que tudo não
passou de um mau funcionamento do programa do holograma médico de
emergência, que passou por algum tipo de alucinação. Tudo volta
ao normal, exceto pelo Doutor, que passa a questionar ainda mais sua
natureza e sua condição enquanto ser vivo.
Comentários:
"Projections"
é um episódio intrigante, beirando o non sense, que se revela como
nada mais que mera ilusão, após 45 minutos de crescente tensão.
No centro desse turbilhão, o Doutor holográfico.
Embora
no fim das contas descubramos que tudo não passou de um mau
funcionamento alucinógeno do holograma (por mais que uma alucinação
seja pouco convincente para um ser holográfico controlado por
computador), o episódio desenvolve bastante a personalidade do médico
--enfatizando o maior dilema de seu personagem: ele é de fato um
ser vivo?
A sugestão feita pelo episódio é a de que o Doutor é tão humano
quanto os verdadeiros humanos, com personalidade e consciência próprias,
embora não passe de uma porção de algoritmos e padrões de luz.
Tudo bem que o objetivo dos produtores é ir aos poucos
transformando o holograma em um ser reconhecidamente vivo, mas a
abordagem aqui é ligeiramente equivocada --para incluir seres
estranhos na classificação de vida, o ideal não é limitar os
padrões desses seres, mas sim estender o conceito do que é um ser
vivo.
Em outras palavras, o Doutor não precisa sonhar e alucinar como um
humano para ser considerado vivo. Pelo contrário, o conceito de
vida que tem que se alargar para poder abraçá-lo. Esse efeito foi
obtido com perfeição quando se tratava de Data --que sempre foi
reconhecido por possuir algumas deficiências, como a de não ter
emoções (controversamente removida no filme "Generations"),
mas mesmo assim passou a ser reconhecido como uma forma de vida.
O episódio que tratou disso, "The Measure of a Man"
(segunda temporada da Nova Geração), conseguiu capturar
muito bem esse espírito, quando Data é considerado vivo pela
incapacidade de determinar se ele de fato está vivo ou não.
Infeliz,
portanto, a estratégia de aplicar demasiada humanidade no Doutor.
Tendo isso dito, vamos ver o que há de bom, pois, se suspendermos
esse viés crítico da questão, descobriremos que "Projections"
é uma história divertida e intrigante, em que a imaginação do
Doutor reflete suas maiores preocupações.
O episódio é um verdadeiro "tour
de force" para o ator Robert Picardo --que não decepciona,
realizando uma de suas melhores atuações até este momento na série.
A história também vai ao âmago de seu personagem, refletindo as
angústias de ser uma forma de vida artificial, no limiar entre a
programação e o livre arbítrio.
Como segundo fator de reflexão, percebemos uma atração sexual
latente do Doutor por Kes, refletida na alucinação que faz da
Ocampa sua esposa. Essa situação seria prontamente transferida,
com ainda maior intensidade, para a personagem Seven of Nine, quando
ela se tornar uma das regulares da série, a partir do quarto ano.
De qualquer modo, a cena que fecha o episódio, entre o Doutor e a
Kes, é, no mínimo, interessante. Um ponto para essa personagem que
costuma ser tão mal utilizada na série.
As
súbitas mudanças de direção do episódio (ora ele é Louis
Zimmerman, ora não é) são surpreendentes e interessantes, assim
como o é a premissa que envolve a aparição de um velho conhecido
dos fãs: o tenente Reginald Barclay. Pena que a conclusão do episódio
mostre que tudo não passou de mera "projeção", fazendo
com que o telespectador se sinta um pouco enganado, por passar uma
hora refletindo sobre uma história que sequer aconteceu.
A título de observação, vale lembrar que o episódio sofreu a
chamada "síndrome de fim da temporada" (como o décimo sétimo
episódio produzido, ainda no primeiro ano, embora tenha sido
exibido apenas durante a segunda temporada). O resultado é um
segmento com poucos atores convidados e um episódio totalmente
ambientado na nave.
No fim das contas, o episódio existe por uma causa nobre
--desenvolver o personagem do Doutor--, mas acaba sendo superado por
outros, que nem esse intuito tiveram. "Projections"
foi bom. Mas poderia ter sido muito melhor.
Citações:
Neelix - "No one gets the
best of me in my kitchen!"
("Ninguém leva a melhor sobre mim na minha cozinha!")
Doutor - "He looks a lot like me. In fact, he looks exactly
like me. Computer, is this me?"
("Ele parece muito comigo. De fato, ele é exatamente igual a
mim. Computador, esse sou eu?")
Doutor - "Computer, delete Paris."
("Computador, deletar Paris.")
Trivia:
"Projections" foi
dirigido por Jonathan Frakes (Will Riker), e foi concebido para ser
o antepenúltimo episódio do primeiro ano de Voyager, mas
posteriormente, junto com mais três episódios, foi jogado para o
início da segunda temporada.
Saiba tudo sobre Reginald Barclay, o
segundo personagem de outra série de Jornada a aparecer em Voyager
(o primeiro foi Quark, no piloto "Caretaker"):
Interpretado por Dwight Schultz (o "Louco" Murdock, da série
"Esquadrão Classe A") o tenente Reginald Barclay,
engenheiro especialista em diagnósticos de sistemas, tranferiu-se
da USS Zhukov para a USS Enteprise-D em 2366. Barclay, embora seja
um engenheiro muito talentoso, tem sérios problemas para conviver
com outras pessoas por causa de sua timidez, tornando-se uma pessoa
extremamente anti-social. Com tendência a reclusão, Barclay
extravasava seus sentimentos a bordo da Enterprise-D no holodeck,
onde vivia uma vida cheia de fantasias. Em uma destas fantasias,
Barclay recriou imagens de seus colegas de tripulação,
colocando-os em bizarras situações na qual ele detinha todo o
controle ("Hollow Pursuits", Nova Geração).
Em 2367, Barclay foi exposto à uma emissão de uma sonda Cytheriana,
o que causou um enorme aumento da atividade neural no seu cérebro,
elevando o QI para 1200. Após causar uma série de transtornos a
bordo da Enterprise, Barclay acabou por voltar a normalidade ("The
Nth Degree", Nova Geração).
Reg Barclay tem uma forte fobia de teletransportes, e para piorar
seu trauma, em "Realm of Fear" (sexto ano da Nova
Geração), Barclay foi atacado por micróbios quasienergéticos
que viviam no feixe de teletransporte, durante a missão de resgate
da USS Yosemite.
Barclay ainda apareceu nos episódios da Nova Geração "A
Fistful of Datas", "Ship in a Bottle" e "Genesis".
Neste último, toda a tripulação involuiu, e Barclay foi
transformado em uma "aranha-homem" graças a uma síndrome
posteriormente conhecida como "Síndrome Protomórfica Barclay".
Após a destruição da Enterprise-D no filme de cinema "Jornada
nas Estrelas - Generations", Barclay transferiu-se para a
Central de Holoprogramação da Federação na Estação Júpiter.
Porém em "Jornada nas Estrelas - Primeiro Contato",
Reg Barclay é visto junto à tripulação da Enterprise-E.
Reg ainda será visto em Voyager nos episódios "Pathfinder"
e "Life Line", da sexta temporada, e "Inside
Man", do sétimo e último ano da série. Nestes três episódios
ele terá a companhia da conselheira Deanna Troi.
Ficha
técnica:
Escrito por Brannon Braga
Dirigido por Jonathan Frakes
Exibido em 11/09/1995
Produção: 017
Elenco:
Kate Mulgrew como
Kathryn Janeway
Robert Beltran como Chakotay
Roxann Biggs-Dawson como B'Elanna Torres
Robert Duncan McNeill como Tom Paris
Jennifer Lien como Kes
Ethan Phillips como Neelix
Robert Picardo como Doutor
Tim Russ como Tuvok
Garrett Wang como Harry Kim
Elenco convidado:
Dwight Schultz como tenente Reginald Barclay
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