Quando o produtor Ira Steven Behr apresentou
pela primeira vez a Michael Piller a idéia de trazer para Deep
Space Nine uma nave que dividiria as atenções com a estação
espacial que dá nome a série, ele tinha em mente uma versão
maior dos Runabouts, as naves exploradoras conhecidas do público
desde o primeiro episódio. Os motivos para a inserção de uma
nave regular na série seriam dois: os diretores reclamavam que o
pequeno espaço do cenário dos Runabouts não permitia muitos ângulos
para fazer as tomadas, e os roteiristas por sua vez diziam que não
conseguiam bolar cenas muito interessantes em um espaço diminuto
e que os telespectadores não engoliriam Sisko & cia
combatendo os recém-criados Jem'Hadars com essas três pequenas
naves exploradoras. Piller passou então a idéia ao chefão Rick
Berman.
"Os Jem'Hadars haviam destruído uma nave da classe Galaxy,
como a Enterprise-D, logo em seu episódio de estréia",
conta Ira Behr. "Nós criamos vilões poderosos, e precisávamos
de uma nave poderosa para os heróis, mais poderosa do que três
simples naves exploradoras. Expliquei para Rick Berman que Deep
Space Nine era uma série diferente e precisaria de uma nave
diferente. Ele não se opôs muito. Aí falei que a nave teria de
ter um dispositivo de camuflagem. Pronto. Ele não aceitou de
maneira alguma, dizia que Gene Roddenberry não aprovaria se
estivesse vivo, que a Federação não ficava à espreita dos
inimigos com dispositivos de camuflagem etc. Mas ao final
concordou..."
Sobre o desenvolvimento da nova nave, Ira conta mais: "eu não
tive muito o que fazer em relação ao design da nova nave a não
ser dizer como eu a queria. Queríamos [a equipe de produção]
pequenos quartos para a tripulação e que todos percebessem que
aquela não era uma nave luxuosa, como a Enterprise-D ou até
Voyager. A ponte de comando teria de ser funcional e não
necessariamente com uma beleza estética. Os painéis de controle
das funções da nave teriam de estar muito próximos, pois se
alguém explodisse em seu posto durante uma batalha, seu colega já
poderia rapidamente virar-se e assumir sua estação de
controle.", continua Behr, "mas de qualquer maneira a
nave teria de ser agradável externamente, sem parecer tão ameaçadora
como de fato seria. A Frota Estelar não é uma organização
terrorista, não quer levar o terror para o coração de seus
inimigos", completa o produtor.
O roteiro de Ron Moore para o episódio de abertura da terceira
temporada em que a nova nave seria introduzida, "The
Search", apresentava-a com o nome de USS Valiant. Como a
série Voyager, com a nave do mesmo nome, estava sendo
desenvolvida, Ron achou que não seria uma boa idéia ter outra
nave começando com a letra "V". Sugeriu a mudança para
"Defiant", lembrando da aparição de uma nave com este
nome no episódio "The Tholian Web" da Série
Clássica e obteve a aprovação. O histórico da Defiant
seria que ela havia sido projetada há alguns anos pelo próprio
Benjamin Sisko nos estaleiros da Frota Estelar, para ser usada em
combate contra os Borgs. Sendo um protótipo teria ainda alguns
probleminhas em seus sistemas que seriam resolvidos no decorrer
das suas futuras missões. Segundo o designer Herman Zimmerman,
veterano de Jornada e que projetou toda a parte interna da nave,
ela seria a mais poderosa nave da Frota Estelar, levando em
consideração seu tamanho. Zimmerman a comparou com um caça
americano atual, rápido e com facilidade de lançar bombas, além
de fortemente armado. Em relação ao design interno disse que
"é pequeno lá dentro, às vezes escuro, como um submarino.
Certamente não é para famílias e crianças".
Acostumado em desenvolver a "nave do episódio da
semana", Jim Martin foi o responsável pela criação do
design externo da Defiant. Martin, além de naves de menor expressão,
já havia criado as naves Jem'Hadars que estrearam no último episódio
da segunda temporada, "The Jem'Hadar", e também criou
naves Maquis, Cardassianas e Bajorianas. Desenvolver completamente
uma nova nave da Federação, e que seria a protagonista da série,
o deixou animado. "Eu amo criar naves", disse
Martin."É a minha coisa favorita no departamento de arte. Eu
tive a chance de trabalhar com Rick Sternbach no desenvolvimento
dos Runabouts em 1992, mas criar a Defiant foi algo
especial", completa Jim.
Seus primeiros desenhos, de uma versão bem maior do Runabout,
foram rejeitados pelos produtores. Martin então concentrou-se em
desenvolver um modelo de nave da Federação que havia criado para
um episódio da segunda temporada de DS9, mas que também foi
rejeitado. Com algumas modificações, o desenho original
tornou-se o embrião da Defiant. Martin conta que "os
produtores queriam algo que parecesse com dentes. Que estivesse
pronto para entrar em batalha com os Borgs. Uma das primeiras
decisões foi que não teria naceles como as outras naves da
Federação. Seria algo realmente novo. O visual que procurei dar
em meus desenhos era de que a nave estava protegida por uma espécie
de casco, como uma tartaruga. Eu pessoalmente acho que a natureza
nos mostra designs excelentes. Algumas das melhores naves que
criei foram baseadas em animais. Sempre que você tem uma nave
baseado em algo da natureza, tem uma grande nave. Esse é meu
segredo --não conte para ninguém!", disse ele em uma
entrevista para a revista Cinefantastique em 1996.
Com o design da Defiant aprovado pelos produtores, Martin tratou
de refinar o desenho original e criar uma série de detalhes. Para
a construção do modelo que seria utilizado nas filmagens, o
trabalho ficou por conta de Tony Meininger, que foi o responsável
pela construção do modelo da própria Deep Space Nine. Ao final
do processo de construção poucos detalhes criados por Jim Martin
haviam sido modificados. Porém, nos primeiros desenhos, a nave
era um pouco diferente da versão que conhecemos.
"Em meus primeiros desenhos, naquela seção bem na frente da
nave havia um cockpit e a ponte de comando não ficava no topo do
casco, mas sim no centro da nave --um lugar bem mais protegido. Na
nave que vemos na TV hoje em dia, onde está o defletor principal
(bem na frente da nave), ficaria meu cockpit recusado",
explicou o designer.
Enquanto isso Herman Zimmerman havia terminado os cenários
internos. Para o episódio inicial, "The Search",
apenas a ponte de comando e quartos dos oficiais seriam necessários.
Como pedia o roteiro, os sets foram quase destruídos nesse episódio
por causa de um ataque Jem'Hadar no quadrante Gama. Na reconstrução
Zimmerman teve a oportunidade de ajustar os cenários para a
colocação das câmeras de filmagem e retirou uma mesa que ficava
atrás da cadeira do capitão. Mais tarde ele adicionou corredores
e a seção de engenharia, garantindo bastante espaço para que os
diretores fizessem as cenas que quisessem, e que isso não fosse
desculpa para que os roteiristas não criassem sequências
interessantes e movimentadas.